Em memória dos 56 anos da morte do padre Henrique, brutalmente sequestrado, torturado e assassinado durante a Ditadura Militar, a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e o Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico de Pernambuco (IAHGP) inauguraram na manhã da quarta-feira (dia 28) um marco memorial em homenagem para relembrar sua história e reafirmar a importância de manter viva a luta em prol da democracia. O evento contou com a presença de diversas autoridades e membros da sociedade civil, incluindo o vice-reitor Moacyr Araújo; e o presidente do IAHGP, George Cabral; além de representantes da família do padre Henrique, religiosos e autoridades.
Padre Henrique era auxiliar direto de Dom Hélder Câmara e com ele realizou contundentes denúncias sobre a violência praticada pela Ditadura Militar. Foi sequestrado, torturado e morto em 27 de maio de 1969 por um grupo do Comando de Caça aos Comunistas e por agentes da Polícia Civil de Pernambuco e teve seu corpo encontrado na Cidade Universitária, nas imediações onde hoje se encontra o Colégio Militar do Recife.
A homenagem a padre Henrique tem a forma de uma painel de azulejo ornamentado que tem como inspiração placas de ruas de Lisboa (Portugal). A placa foi instalada em um totem na entrada do Restaurante Universitário, onde diariamente transitam centenas de estudantes da UFPE. A iniciativa integra o “História das Paredes”, projeto do IAHGP em parceria com a Prefeitura do Recife que visa resgatar acontecimentos históricos, marcos memoriais de locais de interesse histórico, origem de nomes de ruas tradicionais do Recife e personalidades importantes de Pernambuco. O projeto já tem dez anos e 300 placas de azulejo espalhadas por toda a cidade.
Para Moacyr Araújo, cultivar a memória do religioso é pertinente para reconhecer uma parte negligenciada da história e para evitar que situações semelhantes se repitam. O vice-reitor ressalta que a Universidade tem um papel fundamental no reforço contínuo da democracia.
“A homenagem reforça também de uma forma muito contundente que a anistia não é solução para o Brasil, para o país como um todo e para a sociedade brasileira. Não nos adianta esconder as coisas, não viver as coisas, não punir e nós termos frequentemente em nosso futuro situações semelhantes que poderão acontecer. Portanto, padre Henrique vive”, explica.
O idealizador do ato, o promotor de justiça José da Costa Soares, enfatizou a importância da homenagem. “Eu entendo que justiça não se faz com esquecimento. Muito pelo contrário. É importante lembrar para rechaçar e jamais repetir. E a memória do padre Henrique deve ser reavivada diuturnamente, sempre, para que esse país nunca mais flerte em qualquer tipo de projeto autoritário, como lamentavelmente, em passados determinados ciclos, nós ainda nos deparamos nesse país”, destacou. Para o promotor, a Universidade desempenha um papel crucial na preservação dessa memória, sendo um foco irradiador de conhecimento e análise crítica da história.
Para o presidente do IAHGP, George Cabral, o assassinato do padre Henrique faz parte de um momento histórico do país que deve ser recordado sobretudo para as novas gerações. “Rememorar esses episódios é algo fundamental para que a gente não deixe que o discurso sedutor do totalitarismo retorne ao Brasil, para que não se apague a memória do quão horrível é um governo ditatorial, de quão violento é um governo que suprime liberdades individuais”, explica.
Estiveram presentes no evento Terezinha Silva, representando a família de padre Henrique; o padre Fábio Santos, representando o atual arcebispo da Arquidiocese de Olinda e Recife, Dom Paulo Jackson; o arcebispo Emérito da Arquidiocese de Olinda e Recife, Dom Fernando Saburido; a secretária de Cultura do Recife, Milu Megale, representando o prefeito João Campos; a professora Maria José Luna, coordenadora da Comissão de Direitos Humanos da UFPE; o gestor do Memorial da Democracia de Pernambuco, Pedro Xavier; o representante da vereadora do Recife Cida Pedrosa, Wictor Santana; e o representante da Associação dos Docentes da UFPE (Adufepe), Audísio Costa.