A República do "Não Problema"

Antônio Assis
0

Texto de hoje da coluna Acerto de Contas no Diario de Pernambuco 

Pierre Lucena

O quadro político no Brasil tem se especializado pela discussão de temas absolutamente inúteis na resolução dos reais problemas da vida brasileira. O “Escola sem Partido” é um grande retrato disso.

É impressionante como o quadro político brasileiro tem levado a uma superexposição de discussões periféricas ou de pequenos grupos que não representam os reais problemas do país. Podemos enumerar vários deles, mas vou focar em alguns para que tenhamos uma visão clara de como se dá o processo político atual.

Duas discussões na área de educação mostram isso: o Escola sem Partido o Kit Gay.

A proposta da Escola sem Partido vem ganhando corpo no noticiário e em discussões em redes socias como se esse fosse o grande problema da educação brasileira. Ao invés de discutirmos a escola sem banheiro ou escola sem professores, estamos tentando perseguir docentes como se houvesse uma doutrinação em massa das nossas crianças. Este debate é absolutamente ridículo. É um grande factoide com o objetivo de criar uma nuvem de fumaça em torno do real problema: a péssima qualidade da educação no país.

Ao invés de iniciarmos uma discussão séria para obter resultados melhores no Pisa ou em uma melhoria contínua do IDEB, estamos colocando um “não problema” como se no momento em que tivéssemos professores monitorados tudo fosse melhorar.

A outra discussão “farofa” do momento é o Kit Gay. Sem entrar na discussão da falácia da existência do tal kit, a discussão sobre identidade de gênero na escola também é algo trivial que não passa de uma discussão cultural absurda. Este caso específico foi justamente o ponto encontrado pela direita brasileira para tocar no interesse dos pais de alunos, que gostariam que esta discussão se desse em casa.

Isso é outra grande bobagem, porque esta discussão a Rede Globo ou youtubers fazem muito melhor do que a escola, porque parte significativa dos professores sequer entende do assunto. Em outras palavras, enquanto o pai se digladia nas redes sociais sobre o assunto, incentivado pela discussão política binária que se tornou regra no país, os filhos assistem Malhação ou o canal de Felipe Neto no Youtube, onde se discute com muito mais naturalidade o assunto.

Estamos com 12 milhões de desempregados, nas últimas posições em resultado educacional internacional e a situação da saúde pública é vergonhosa, mas o grande debate eleitoral focou apenas em poucas e irrelevantes propostas, como as que falei acima.

Este processo eleitoral ainda trouxe uma grande novidade: não se discutiu coisa alguma. A única proposta que me lembro é a de retirada do nome do SPC, proposta por Ciro Gomes. Ninguém discutiu o déficit fiscal, a reforma da previdência ou a reforma política. A população se restringiu à discussão de quem era mais ou menos corrupto ou a uma guerra cultural pobre, naquele processo conceituado por Olavo de Carvalho como o “imbecil coletivo”. Enquanto a esquerda fica abismada porque um governo conservador coloca ministros conservadores, a direita monopoliza a discussão pobre que não levará o país para lugar algum.

Enquanto isso, estamos observando que parte da sociedade brasileira ainda não caiu em si da real situação do país, já que no ano que vem teremos um déficit gigante nas contas públicas e nada parece mudar esta curva que compromete a moeda e o futuro do país.

Postar um comentário

0Comentários
Postar um comentário (0)