Serra Negra, em Bezerros
Foto: Leo Motta
Tatiana Notaro
Folha de Pernambuco

O resultado foi grande transtorno na estrada que conduz à vila que fica a 9 km da cidade. Segundo relatos, pessoas chegaram a ficar mais de duas horas presas nos engarrafamentos no sábado e domingo. Moradores estão temendo novo caos nos próximos dias de festejos juninos.
Para tentar remediar a situação, a Prefeitura anunciou em suas redes sociais que colocará uma barreira aos ônibus e micro-ônibus em lugares estratégicos e que apenas vans poderão subir para a festa no próximo fim de semana, véspera e dia de São João. Até o momento, segundo o secretário de Governo do município de Bezerros, Josevânio Miranda, 30 veículos já foram cadastrados e terão a permissão para cobrar R$ 5 pelo trecho, “tabelado, para que não haja exploração”. Miranda argumenta que nas vias estreitas, de mão dupla e sem acostamento, que levam até o polo cultural do distrito, as vans vão fluir melhor que os ônibus. “Já comunicamos às agências de turismo, pedimos que eles venham já de van, que fica mais rápido o acesso”, disse.
No espaço destinado aos shows, cabem 10 mil e a estrutura para estacionamento é geralmente improvisada. Manuel José da Silva Filho é nascido em Bezerros, tem um sítio na Serra Negra, e contou que, no último fim de semana, no trajeto de 4 quilômetros (km) que costuma fazem em 15 minutos, levou mais de 2h30. O próprio secretário Miranda reforçou esse problema. Disse à reportagem que alguns demoraram até 4h para conseguir subir a Serra; 1h30 para descer. Outro sitiante de Serra, Jairo Raposo narra a mesma dificuldade do trajeto: para sair do sítio para o polo, um trajeto de 4 km, levou mais de 2h. A fila de engarrafamento descia a serra, atravessava a cidade de Bezerros e chegava perto da BR-232. É inadmissível que a prefeitura promova um evento nestas condições”, reclama.
Outro dono de sítio, o empresário André Araujo disse que o maior temor é para o caso de haver uma emergência na Serra. “O Samu não vai conseguir chegar. E se estiver lá em cima, não desce. É uma irresponsabilidade o que estão fazendo na Serra Negra”. Para ele, ali só deveriam acontecer eventos fora de datas festivas, de médio porte, que não atraia multidões. “O que acontece na Serra é uma total falta de gestão”, conclui.
Manoel Silva reclama que a Serra Negra não suporta festas de grande porte, como as prevista para o São João, com grandes atrações e alta demanda de veículos. “A Serra Negra é uma vila, não tem saneamento, não tem estrutura para o lixo que se gera ali e o estacionamento é sempre improvisado em festas deste tamanho”. “A cada ano, a divulgação cresce, e mais gente sobe. Só que as autoridades não divulgam que é um local de pouca estrutura. As pessoas vão e se frustram pela dificuldade. No último fim de semana, viaturas do Corpo de Bombeiros e o Samu também estavam engarrafados.
Eu vi uma van, parada, de onde desceram pessoas, colocaram uma mesa na via pública e começaram a beber ali mesmo; motos que passavam dando ‘socos’ nos retrovisores, e muito lixo. As pessoas precisam ser respeitadas em seu direito de ir e vir. Até prestar socorro a alguém nas condições atuais seria inviável. Torço para que as pessoas que foram para Serra no último fim de semana desencorajem outras a ir. Porque isso não é lazer, é sofrimento”, descreveu Silva.
Economia local
Este é o primeiro ano em que o São João de Serra Negra recebe patrocínio privado, cujo valor não é divulgado. Mas segundo a Secretaria de Turismo de Bezerros, “ foram investidos em toda estrutura, atrações e organização cerca de R$ 600 mil”. A prefeitura aposta que, nos sete dias de festa, circule mais de R$ 1 milhão, movimentados pelo comércio, rede hoteleira, bares e restaurantes de Bezerros e Serra Negra.
Nesse “progresso”, o secretario Josevânio Miranda disse que a gestão não cogita transferir a festa para Bezerros. “Isso já foi testado e não se consegue competir com Caruaru e Gravatá, que são próximos. Nossos atrativos são, justamente, o local, e o horário”, argumentou.
Insegurança
Na área de Serra Negra, há relatos de assaltos no percurso, quando os bandidos se aproveitam do engarrafamento; se aproveitam do estacionamento escuro. “Não roubam carros porque não tem como, mas há para-brisas e retrovisores quebrados e muitos furtos aos veículos”, conta Raposo. A casa de Silva foi arrombada. “A minha e as de uma dezena de pessoas”.
“Para nós, da organização, esse relato de assalto não chegou. Mas achamos que foi muito pouco o policiamento. E o prefeito está no Recife conversando com o comandante da Polícia Militar e com o governador e vai ter reforço de policiamento e trânsito. Estamos também contratando policiais que estão de folga ou que estejam aposentados para, de moto, fazer essa circulação”, explica o secretário Josevânio Miranda. Procurados pela reportagem, a Polícia Militar e o Governo do Estado não confirmaram agenda com o prefeito Branquinho (PSB).
Urbanização
Há também muitas queixas e denúncias acerca do processo de urbanização sem padrão que Serra Negra vem sofrendo. “Assim como o Recife tem normas para construção, lá também tem, mas são ignoradas. As pessoas fazem como querem. Eu estou denunciando o surgimento de cortiços, com ocupação de 100% do terreno, sem prever coisa alguma. É um claro processo de favelização com a omissão do poder público”, diz Manoel Silva.
Questionado, o secretário Josevânio Miranda diz que, de fato, existem construções irregulares, “que que apresentaram um projeto e estão executando outro”, mas que eles estão embargadas até que se enquadrem ao plano diretor do distrito.