Vaias nas veias

Antônio Assis
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Ricardo Boechat - ISTOÉ

As vaias que vem amarelando o sorriso de Michel Temer em suas aparições públicas vão aumentar.Entre outras razões, porque são mais ecumênicas e menos trabalhosas que os protestos de rua.Mesmo quando o presidente não se encontra, elas têm marcado presença em estádios, shows e eventos de distintas naturezas. Como se diz, a coisa “viralizou”. Muito já se está discutindo a respeito no Planalto. Afinal, o que fazer? Temer, no seu melhor estilo e talvez única alternativa, continuará exibindo a habitual cara de paisagem. No Ministério e no Congresso, os escudeiros palacianos oscilarão entre platitudes (Moreira Franco: “continuaremos pacificando o País”), menosprezo (Eliseu Padilha: “eram apenas 18 pessoas entre 18 mil”) e diversionismo (Henrique Meirelles: “não alteram a condução do ajuste econômico”). No corner oposto, os oposicionistas também cravam seus diagnósticos, enxergando nos apupos o inicio de uma rebelião nacional que derrubará o novo governo. Também sustentam, como Lindbergh Farias, que tais reações expressam o “inconformismo da população diante do golpe”.

Seria interessante contratar uma pesquisa para saber o que dizem os vaiadores. Talvez se descubra que os dois lados da pizza perderam o ponto.

A tal pesquisa quiçá constate que as vaias são contra os políticos em geral e contra tudo que eles fazem com a nossa pátria amada. Quem sabe a sondagem também descubra que as vaias de hoje não têm conexão com a briga de quadrilhas partidárias que se engalfinharam no impeachment, mas, sim, com as apartidárias manifestações de massa de 2013. Pode ser que as vaias expressem nada mais que o desejo, este sim unânime, de que os políticos parem de ser o que são e de fazer o que fazem do Brasil. Que, glória das glórias, se inspirem nos homens públicos daqueles paraísos que chamamos de “sociedades avançadas”.

O que de melhor pode acontecer é Temer serenar os espíritos, seu e dos aliados, diante dessa e de outras antipatias populares. Ao invés de armar discursos, factoides e campanhas no estilo “Ame-o ou deixe-o”, o presidente deve encarar as vaias como (para usar expressão ao seu estilo) “pressão colaborativa”, de contribuintes cansados de esperar por governos que, enfim, façam o que é preciso.

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