Em carta a senadores, Dilma reclama de “golpe” e de pautas-bomba

Antônio Assis
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Agência Estado e Agência Brasil

“A democracia há de vencer.” Foi assim que a presidente afastada Dilma Rousseff (PT) concluiu a carta em que se dirigiu aos senadores que vão julgar o seu processo de impeachment na próxima semana. Depois da derrota que a petista sofreu no plenário do Senado, que aceitou a denúncia contra ela no último dia 10, havia se cogitado retirar a palavra ‘golpe’ do texto. O termo como os aliados da presidente chamam o impedimento apareceu no texto, assim como uma reclamação sobre as pautas-bomba aprovadas pelo Congresso no início do segundo mandato. A presidente afastada ainda voltou a defender um plebiscito para novas eleições.


“A restauração plena da democracia requer que a população decida qual o melhor caminho para melhorar a governabilidade”, justificou sobre a proposta de plebiscito. A presidente afastada apenas leu o documento e não respondeu perguntas dos jornalistas.

No documento, intitulado “Mensagem ao Senado e ao povo brasileiro”, Dilma reafirma que não cometeu crime de responsabilidade e classifica o processo deimpeachment contra ela de “golpe”. Dilma diz que caso o Senado decida pelo afastamento definitivo dela da Presidência da República haverá “ruptura da ordem democrática baseada em um impeachment sem crime de responsabilidade”. A presidente disse ainda que o processo é injusto, pois foi “desencadeado contra uma pessoa honesta e inocente.”

Muitas vezes criticada até por aliados pela dificuldade em reconhecer erros, Dilma afirmou que na sua “jornada” para se defender do impeachment ouviu “duras críticas” ao governo, “a erros que foram cometidos e medidas politicas que não foram adotadas”. “Acolho essas críticas com humildade para que possamos construir um novo caminho”, disse.

A petista elencou algumas prioridades de seu governo, disse que gerar emprego e elevar a qualidade da educação são prioridade e afirmou que o seu lema persistirá sendo “nenhum direito a menos” Dilma disse ainda que reformas necessárias para Brasil enfrentar a crise foram bloqueadas pelo Congresso, que insistiu “na política do quanto pior melhor”. “Pautas-bomba foram impostas”, afirmou.

Sem citar o nome do presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), Dilma disse que “a essa altura todos sabem que não cometi crime de responsabilidade” e que “jamais se encontrará na minha vida registro de desonestidade, covardia ou traição”. “Ao contrário dos que deram início a este processo injusto e ilegal, não tenho contas secretas no exterior, nunca desviei um único centavo do patrimônio público para meu enriquecimento pessoal ou de terceiros e não recebi propina de ninguém”, afirmou ainda.

Ao dizer que o País atravessa um momento muito grave, Dilma disse que ele pode ser superado. “Esse momento que requer coragem, clareza de todos nós. É um momento que não tolera omissões, enganos ou falta de compromisso com o País”, afirmou. Dilma pediu aos senadores “que não se faça injustiça de me condenar por crime que não cometi”. “Minha esperança é a do povo brasileiro, que me elegeu duas vezes. Não devemos permitir que uma ruptura fragilize nossa democracia. A democracia há de vencer”, afirmou, repetindo que a democracia “é o lado certo da história”.

O pronunciamento de Dilma foi realizado no Palácio da Alvorada e durou cerca de 13 minutos. Dilma atrasou a sua fala e assim que chegou quebrou o protocolo para comentar a derrota do futebol feminino nos pênaltis para a Suécia.

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