“Consórcio” foi formado para comprar jatinho de Campos

Antônio Assis
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Folha-PE

Relatório de inteligência financeira da Polícia Federal, ao qual a Folha de Pernambuco teve acesso, revela a formação de um “consórcio” para aquisição do Cessna Citation 560 XL, , que transportou o ex-governador Eduardo Campos (PSB) durante a campanha presidencial de 2014. Uma verdadeira “rede” foi armada para aquisição da aeronave.

O esquema teria utilizado três fontes para pagar parte do jatinho que pertencia à AF Andrade Empreendimentos e Participações Ltda, que repassaram, no total, 935.297,03 mil. Entre elas a Ele Leite Negócios Imobiliários e a Geovane Pescados. Com a morte de Eduardo, o valor total do jatinho nunca foi pago.

Mas o esquema de lavagem de dinheiro e crime eleitoral foi muito além. Ao menos 30 pessoas físicas e 40 pessoas jurídicas estariam envolvidas no levantamento da PF que não se limitou apenas à aquisição do jatinho. Os investigadores da Operação Turbulência mapearam uma rede de empresas de fachada utilizadas para lavar dinheiro proveniente de obras públicas para campanhas políticas. De acordo com o inquérito, a empresa Geovane Pescados, apesar do capital social de R$ 80 mil, teria participado de movimentações financeiras de R$ 20.982.832,00, no período de 1º de janeiro de 2014 a 27 de agosto do mesmo ano, espaço de tempo que coincide com o período eleitoral. 

Os valores, segundo o documento, são “incompatíveis com a capacidade financeira” da firma. Além disso, a PF, no inquérito, não deixa dúvidas que a empresa seria de fachada. A reportagem da Folha de Pernambuco foi ao local e constatou que o endereço é residencial e fica numa favela, na Imbiribeira.

Entre os repasses recebidos pela Geovane Pescados, R$ 1.297.000,00 foram da Câmara & Vasconcelos Locação e Terraplanagem Ltda; R$ 1.041.134,83 da Negocial Factoring Fomento Comercial Ltda, R$ 655.455,55 da Almeida & Dale Galeria de Arte Ltda e R$ 500.000,00 da Smartcred Securitizadora de Créditos S/A, entre outros.

Segundo o inquérito, a Geovane Pescados também foi responsável por repasse de R$ 12.500,00 à conta da AF Andrade Empreendimentos e Participações Ltda., a então proprietária do avião usado por Campos. Outros repasses da empresa foram feitos para Câmara & Vasconcelos (R$ 165.000,00), Vasconcelos & Câmara (R$ 165.000,00), JVAS Comércio de Cosméticos Eireli (R$ 457.600,00), Prisma Tubos Industriais e Comércios Ltda. (R$ 340.638,28), AR Transporte Comércio e Locação Ltda. (R$ 254.400,00) e Ponto Extra Alimentos Ltda. (R$ 120.000,00).

Câmara & Vasconcelos
A Câmara & Vasconcelos Locação e Terraplanagem Ltda, que era do empresário Paulo César de Barros Morato - que morreu na semana passada e que é considerado o “testa de ferro” do esquema - recebeu R$ 18.858.978,16 da Construtora OAS Ltda, no mesmo período de 1º de janeiro a 27 de agosto de 2014. Dois dias depois, dois saques no valor de R$ 2.000.000,00 e R$ 2.076.502,88 foram considerados suspeitos pela PF. 

O primeiro repasse teria sido, segundo o documento, referente à locação de máquinas e equipamento utilizados nas obras da Transposição do Rio São Francisco e a pagamento de funcionários. A obra foi alvo da Operação Vidas Secas, que apurou desvio de pagamento de propina. 

Em agosto de 2015, a empresa mudou a razão social para Morato Locação e Terraplanagem, empresa individual, com capital social de R$ 600 mil, que tinha como único sócio responsável o próprio Morato. No mesmo mês, a Receita Federal decretou suspensão da empresa por falta de pluralidade de sócios. Ainda em 2015, outra empresa de Morato, a Lagoa Indústria e Comércio Ltda., aberta em 2005, foi suspensa pela Receita Federal pelo mesmo motivo. 

Além disso, no documento, consta, inclusive, que os proprietários da Vasconcelos & Câmara Ltda., também citada no inquérito, já foram sócios da Câmara & Vasconcelos no período de 2007 a 2009. Contudo, a PF detectou repasses da Vasconcelos & Câmara à Câmara & Vasconcelos no montante de R$ 114.500,00 entre janeiro e agosto de 2014. A reportagem da Folha tentou contato com a Vasconcelos & Câmara, sem sucesso.

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