Documentos inéditos do SNI revelam uma nova história do regime militar no Nordeste

Antônio Assis
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Documentos comprovam a perseguição ao então arcebispo de Olinda e Recife d. Helder Câmara no exterior. Governo militar era contra a indicação do religioso ao Prêmio Nobel da Paz. Foto: Carlos Teixeira/DP/D.A. Press/Arquivo

Tércio Amaral
Diário de Pernambuco

Debaixo de uma árvore, espécie rara, daquelas que fazem sombra no meio do Sertão alagoano, em plena Serra da Jurema, o padre Roservaldo reunia agricultores para a pregação do evangelho. Como qualquer Católico Apostólico Romano, sua oratória deveria ser guiada pelos versículos bíblicos e os ensinamentos de Jesus. Deveria. Mas não era bem assim. Era tudo “política”. Pelo menos para o serviço de inteligência da Polícia Militar de Alagoas, que remeteu ao Serviço Nacional de Inteligência (SNI), órgão de vigilância do regime militar (1964-1985), as principais ações do movimento ainda desconhecido pela historiografia brasileira: “A Guerrilha de Pariconhas”, que envolveu, na década de 1960, nomes de peso da político no estado vizinho de Pernambuco, a exemplo do atual presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-PE), e o ex-governador e atual deputado federal Ronaldo Lessa (PDT-AL). O documento confidencial obtido com exclusividade pelo Diario, datado da década de 1980, faz parte de um novo capítulo da história da ditadura, só agora revelado, numa série de registros do Arquivo Nacional.

O acervo que faz parte dos arquivo do SNI - atual Agência Brasileira de Inteligência (Abin) - e contém mais de 8 mil páginas sobre a repressão em Pernambuco e 30 mil sobre a região Nordeste. Todo esse material foi coletado pelo historiador e militante da ONG Tortura Nunca Mais da Bahia Grimaldo Carneiro Zachariadhes, que está doando os arquivos ao curso de história da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), sob os cuidados da professora Giselda Brito. “Eu já fiz a coleta de vários estados brasileiros nos arquivos do Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília. A intenção é, ao disponibilizar esta documentação nos estados nordestinos, impulsione as pesquisas sobre a ditadura nos estados que são dificultadas pela falta de acesso a esta documentação”, diz Grimaldo.