Dois estilos e um objetivo: o Senado

Antônio Assis
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Rosália Rangel


Quando os pré-candidatos a senador por Pernambuco, o deputado federal João Paulo (PT) e o ex-ministro Fernando Bezerra Coelho (PSB), iniciarem oficialmente suas campanhas caberá ao eleitor identificar quem representará melhor o estado no Senado. Antes de cravar o voto na urna, o cidadão terá tempo para observar detalhes da personalidade desses dois políticos que têm origem, trajetória e estilos diferentes de fazer política. João Paulo e Bezerra Coelho já foram do mesmo palanque, na Frente Popular. Agora estão em lados opostos. Vão se enfrentar no desafio de conquistar a única cadeira do Senado que estará em disputa na eleição deste ano.

A primeira diferença entre os dois remete ao início da carreira. João Paulo, um político moldado nos movimentos populares e sindicais do Recife, de características essencialmente urbana. Bezerra Coelho, sertanejo de Petrolina, construiu a vida profissional e política em sua cidade natal, onde foi prefeito por três vezes.

Uma diferença que na avaliação de aliados socialistas já foi diluída pelo tempo. “Não existe mais essa diferença de quem é do interior ou da cidade. A partir do momento que Fernando assumiu cargos públicos, a presença dele se verifica em todas as regiões do estado e não apenas no interior”, observou o presidente estadual do PSB, Sileno Guedes.
Já o concorrente pela vaga vê um forte duelo. “Sei que o desafio é grande, principalmente porque iremos disputar apenas uma vaga. Além do mais, em tese, vamos enfrentar um candidato que vem com a força da máquina. Mas um revolucionário não pode ter apego a cargos e mandatos”, pontuou João Paulo, que aposta na competitividade da chapa para chegar à vitória. “Armando Monteiro (pré-candidato ao governo do estado pelo PTB) é um excelente nome e temos uma base muito boa”, destacou.

Bezerra Coelho, por sua vez, avalia o cenário com o olhar voltado para as diferenças existentes entre eles. “Teremos uma boa disputa. Ele (João Paulo) com uma maior presença na Região Metropolitana e eu no interior. Então, cada um vai procurar o espaço disponível para passar seus pensamentos e mensagens”, ponderou o socialista.

Futuro político
Mas quais os caminhos vislumbrados pelos pré-candidatos no caso de uma derrota? Uma pergunta que nem Bezerra nem João Paulo aceitam responder por não acreditarem na possibilidade. “Temos consciência que o desafio é tremendo. Mas a nossa perspectiva de ganhar é real”, reagiu Lygia Falcão, assessora parlamentar de João Paulo. Para o petista restaria  voltar a concorrer à Prefeitura do Recife. Bezerra poderá assumir um ministério no governo de Eduardo Campos (PSB) ou uma secretaria na gestão de Paulo Câmara. Hipóteses, no entanto, que dependem do sucesso deles nas urnas.

Com mais tempo livre que o adversário
Na batalha pela conquista de votos, pode se dizer que Bezerra Coelho (PSB) tem a seu favor a vantagem de contar com o tempo mais livre para se dedicar à campanha. Sem mandato eletivo ou cargo na administração pública, ele começou mais cedo as andanças como pré-candidato ao Senado. João Paulo (PT), por sua vez, ainda precisa administrar as atividades parlamentares com os eventos da sua pré-campanha.

Por enquanto, o deputado só poderá ficar no estado nos finais de semana. Sobre a possibilidade de renunciar ao mandato, ainda não tem uma certeza. “A princípio, não tem nada definido. Agora, se houver necessidade, não for possível conciliar e chegarmos a conclusão que vai ter comprometimento (da campanha), eu me desligo da Câmara”, prevê.

Bezerra deixou o Ministério da Integração Nacional em outubro. Inicialmente, passou a trabalhar para disputar a eleição para o governo do estado. Investiu em agendas pesadas pelo interior e em atividades na Região Metropolitana. A escolha para a disputa estadual, no entanto, acabou ficando com o ex-secretário da Fazenda Paulo Câmara. Ao ser perguntado se avançou mais que João Paulo, o ex-ministro foi cauteloso. “Não vejo isso como vantagem nem desvantagem porque o mandato dá a ele a tribuna que a gente não tem”.

Ao contrário de Bezerra, que teve o nome confirmado no dia 21 de fevereiro, João Paulo só foi anunciado no dia 5 deste mês. A indicação aconteceu 14 dias depois dos petistas terem aderindo ao palanque do senador Armando Monteiro Neto. 

João Paulo Lima e Silva (PT), 62 anos

Nasceu em Olinda, em 31 de outubro de 1952. Filho de um cobrador de ônibus (Manuel Messias) e uma dona de casa (Maria de Lourdes), deu os primeiros passos na vida pública em 1970, como presidente da associação dos moradores do Ibura, bairro onde morava. Depois de concluir o curso de edificações na Escola Técnica Agamenon Magalhães, começou a trabalhar como metalúrgico nas funções de serralheiro, fresador mecânico e caldeireiro. Nesse período, iniciou a vida sindical, quando os sindicatos eram controlados pelos donos das empresas. Na oposição, conseguiu se eleger presidente do Sindicato dos Metalúrgicos e, em 1979, participou da fundação do PT, iniciando sua incursão na política.

Campanhas eleitorais
1986
Disputou o primeiro mandato a deputado estadual pelo PT.
Votação: 10 mil votos (não conseguiu se eleger)

1988
Primeiro vereador eleito pelo PT no Recife com 2.723 votos.

1990
Se elege para deputado estadual com 10.867 votos.

1992
Disputou a eleição para Prefeitura de Jaboatão. Recebeu 19.720. Não se elegeu.

1994
Com 48.892 votos é eleito deputado estadual com a maior votação da história de Pernambuco.

1996
Concorreu a prefeito do Recife. Ficou em terceiro lugar com 105.160 votos.

1998
Eleito para o terceiro mandato de deputado estadual com 50.833 votos.

2000
Conseguiu o feito de ser o primeiro metalúrgico eleito para a Prefeitura do Recife com 382.988 votos.

2004
Foi reeleito prefeito do Recife com 458.846 votos.

2010
Eleito deputado federal com 264.250. Foi o terceiro colocado e mais votado do PT.

2012
Foi candidato a vice-prefeito na chapa encabeçada por Humberto Costa, que terminou na terceira posição.

Cargos
Presidente da Ação Operária (Recife) - 1972

Presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT/Recife) - 1983/1985

Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos (1984/1987)

Presidente da Associação dos Moradores do Ibura (1986/1988)

Presidente da Frente Nacional de Prefeitos (2005/2008).

Secretário de Articulação Regional do governo Eduardo Campos (2009)


Fernando Bezerra Coelho (PSB), 57 anos

Natural de Petrolina, Sertão do São Francisco, nasceu em 7 de dezembro de 1957. É filho de Paulo e Lizete Coelho e pai de três filhos. Em 1979, concluiu o curso de administração pela Escola de Administração de Empresa de São Paulo (Eaespe), da Fundação Getúlio Vargas. Logo em seguida, iniciou a carreira profissional na iniciativa privada, na área administrativa do Cortume Moderno, em Petrolina. A política entrou na vida de Fernando em 1982, quando conquistou o mandato de deputado estadual. Quatro anos depois, entrou no grupo político do ex-governador Miguel Arraes, na época candidato ao governo de Pernambuco. Já foi filiado ao PSD, PFL e PMDB.

Campanhas eleitorais
1982
Eleito deputado estadual com 26.543 votos

1986
Eleito deputado federal constituinte com 58.773 votos

1990
Reeleito para Câmara Federal com 26.746 votos

1992
Eleito prefeito de Petrolina com 1992

1998
Foi candidato a vice-governador na chapa encabeçada por Miguel Arraes (PSB), que perdeu a eleição para Jarbas Vasconcelos (PMDB)

2000
Retorna à Prefeitura de Petrolina com o voto de 59.123 eleitores.

2004
Reeleito prefeito de Petrolina com 41.001 votos

Cargos
Secretário da Casa Civil do Governo Miguel Arraes (1985/1986)

Secretário de Agricultura do governo Miguel Arraes (1998)

Presidente do Santa Cruz (2008/2010)

Secretário de Desenvolvimento Econômico do governo Eduardo Campos (2007/2010)

Ministro da Integração Nacional do governo Dilma Rousseff (2011/2013)


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