Espionagem traça destinos políticos desde a Antiguidade

Antônio Assis
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Anthony Zurcher
BBC

As revelações de que a Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos (NSA) estaria bisbilhotando políticos e pessoas mundo afora atraiu a ira de muitos governos. Espionar e ser espionado, no entanto, não se configura uma novidade.

O general chinês Sun Tzu, famoso por seu livro "A Arte da Guerra", escreveu: "Os líderes brilhantes e os bons generais que consigam ter bons espiões vão ter muitos êxitos".

Roubar cartas, interceptar comunicações, fazer escutas: estes são alguns exemplos de espionagem ao longo da história.

Na Roma antiga, os líderes políticos tinham a sua própria rede de vigilância, que lhes fornecia informações sobre as intrigas nas diferentes escalas de poder do império.

O famoso orador Cícero frequentemente se queixava de que suas cartas eram interceptadas.
“Não consigo encontrar um mensageiro fiel" , escreveu a seu amigo Atticus . "São muito poucos os que conseguem levar uma carta e não ficam tentados a lê-la" .

Júlio César também construiu uma rede de espionagem para saber das conspirações contra ele. É possível, inclusive, que ele sabia de antemão da conspiração no Senado que pôs fim à sua vida .

Inquisição
Na Idade Média, a Igreja Católica tinha mais poder do que muitos governos. E, obviamente, tinha uma rede de vigilância poderosa.

Um dos comandantes do sistema foi o bispo francês Bernard Gui, considerado um excelente escritor e um dos arquitetos da Inquisição.


É possível que Júlio César tenha sido informado da rebelião que resultou na sua morte

No livro "A conduta da Inquisição na Depravação da Heresia", de 1324, Gui explicou como identificava, interrogava e punia os hereges.
Elizabeth 1ª

A corte de Elizabeth 1ª, na Inglaterra, foi um campo fértil de intrigas. A função do fidalgo Francis Walsingham era fazer com que a monarca estivesse sempre um passo à frente de seus adversários.

Em maio de 1582, Walsingham conseguiu interceptar a correspondência do embaixador espanhol Bernardino de Mendoza. A carta falava sobre uma conspiração para invadir as ilha britânicas e instalar no trono a soberana dos escoceses, a rainha Mary.

Enquanto Mary estava confinada em uma prisão, Walsingham conseguiu uma maneira de provar o que já se falava na corte.

Ele se fez passar por um aliado de Mary e começou a trocar correspondências com ela por meio de cartas que chegavam escondidas em um barril de cerveja.

Nas cartas, Mary falou sobre o plano e Walsingham conseguiu as provas de que ela planejava assassinar Elizabeth 1ª e causar uma rebelião. A rainha dos escoceses foi julgada e condenada à morte.

Robespierre
Durante a Revolução Francesa, Robespierre e seus colegas vigiavam atentamente os revolucionários e reprimiam violentamente qualquer dissidência.
Em 1793, o governo revolucionário estabeleceu doze "comitês de vigilância" em todo o país . Os comitês eram autorizados a identificar, monitorar e prender qualquer suspeito.
Historiadores estimam que pelo menos meio milhão de pessoas foram alvos dos comitês de vigilância, famosos pela crueldade em muitas cidades francesas.

Nos séculos 18 e 19, governos europeus começaram a criar as "câmaras escuras", onde se interceptava e lia as cartas de indivíduos suspeitos .



Os EUA conseguiram a liderança naval após espionar os japoneses em uma cúpula em Washington

Os escritórios, localizados nos prédios do serviço postal, empregavam diversas técnicas para abrir, copiar e novamente fechar as cartas, sem deixar rastros.

A prática foi o pivô de um escândalo no governo britânico em 1844, quando foi revelado que a “câmara negra” havia interceptado a correspondência do escritor italiano Giuseppe Mazzini, que vivia exilado em Londres.

O governo foi acusado de passar informações às autoridades de Nápoles, que usaram os dados para caçar e executar revolucionários companheiros de Mazzini.
Negociação e espionagem

Em 1922, os Estados Unidos organizaram uma conferência de desarmamento naval em Washigton, com a presença de representantes do Reino Unido, França, Itália e Japão .

Em meio às negociações, os americanos espionaram as comunicações entre Tóquio e os diplomatas japoneses, além de delegados de outros países.

Com as informações levantadas pelo Instituto de Criptografia do governo, fundado em 1919, os Estados Unidos conseguiram fechar acordos que lhes proporcionaram a liderança na corrida armamentista naval.

Em 1929, o escritório foi fechado pelo Secretário de Estado, Henry Stimson, que disse: "Cavalheiros não leem a correspondência de outras pessoas".

Após a Segunda Guerra Mundial, os americanos decidiram que os cavalheiros precisavam, no entanto, de uma rede de monitoramento permanente.
Vizinho espião

Durante a Guerra Fria, a espionagem fez parte do cotidiano de quem vivia nos países atrás da chamada “cortina de ferro”.


Em nenhum lugar foi mais sentida do que na Alemanha Oriental. Durante 40 anos, o serviço de inteligência do Ministério da Previdência (conhecida como a Stasi) monitorou e registrou as atividades dos cidadãos, usando as informações para acabar com tumultos e possíveis dissidências.

Até a queda do Muro de Berlim em 1989, a Stasi tinha 91 mil colaboradores, com uma rede de 200 mil informantes.

A Alemanha Oriental usou a tecnologia, com uma quantidade imensa de funcionários, expandindo a espionagem em uma escala nunca antes vista.

Os Estados Unidos também adotaram práticas parecidas após a Segunda Guerra Mundial, como parte do projeto Shamrock. Foi criada uma rede de vigilância de cidadãos americanos suspeitos de atividades subversivas.

O sistema de vigilância foi extinto pelo Congresso em 1975. Quase quatro décadas depois, a NSA acabou reconstruindo o projeto Shamrock, desta vez bisbilhotando os cidadãos em uma nova esfera - a rede mundial de computadores.

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