Avenida Rio Branco, no Bairro do Recife, ficaria mais humanizada
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Ninguém pediu ao arquiteto César Barros projetos para arborizar ruas, abrir ciclovias, criar parques, melhorar a fluidez do trânsito e urbanizar favelas. Porém, mesmo sem ser solicitado, ele compartilha com o poder público e a população propostas que, acredita, podem ajudar a fazer do Recife uma cidade mais saudável.
As ideias defendidas por César Barros estão condensadas no livro Recife Enxerido (nome bem apropriado) com lançamento nesta terça-feira, às 19h, no Museu da Cidade do Recife, no Forte das Cinco Pontas, bairro de São José. Não haverá tiragem impressa, apenas venda eletrônica pela internet. O endereço será divulgado no evento.
Dividido em dez capítulos, o livro traz soluções simples para problemas do dia a dia, afirma o arquiteto. Uma delas é a implantação do Parque Capivara às margens do Rio Capibaribe, num trecho de 15 quilômetros, de Apipucos, Zona Norte, até o Centro. Seria uma alternativa para percursos a pé e de bicicleta ou para o lazer.
Ele também sugere mudanças na Avenida Agamenon Magalhães, com a eliminação de duas faixas de rolamento, das 12 existentes. Se dependesse do arquiteto, no lugar de carros, as duas faixas passariam a ser ocupadas por pedestres, com patins, bicicleta e skate. Os únicos veículos permitidos seriam ambulância e viaturas de polícia e bombeiros.
O pedestre também é o protagonista numa rota arborizada projetada no Centro, com o intuito de estimular percursos a pé. O circuito, no bairro da Boa Vista, integra o Cais da Aurora, Rua Mamede Simões, Parque 13 de Maio, Rua Sete de Setembro, Rua da Imperatriz e Cais José Mariano. Pessoas com dificuldade de locomoção estariam contempladas, com acessibilidade.
Barros indica a construção de pontes sobre o Capibaribe, para facilitar a circulação no Centro – uma ligaria a Rua do Riachuelo (Boa Vista) à Rua do Sol (Santo Antônio) e outra faria a comunicação entre a Avenida Mário Melo (Santo Amaro) e o Cais do Apolo (Bairro do Recife).
Morros e favelas também viraram objeto de estudo. Para as partes altas da cidade, ele projetou mirantes e um parque verde, que seria criado com a retirada de casas de áreas de risco. Redes de teleféricos ligariam o morro à planície e permitiriam a comunicação entre as encostas, pelo topo das colinas.
As favelas seriam urbanizadas com materiais descartados dos ferros-velhos existentes nas comunidade
As favelas, diz ele, seriam urbanizadas com materiais descartados dos ferros-velhos existentes nas comunidades. Com as peças, é possível fazer sinalização de rua, poste, banco de praça, observatório e brinquedos, abrindo áreas de convivência para moradores.
No caso das palafitas, César Barros apresenta uma proposta curiosa. Em vez de deixar as pessoas vivendo em condições subumanas, o município, em parceria com a iniciativa privada, poderia transferir as famílias para contêineres adaptados para moradia.
“Seria uma situação provisória, com mais conforto, enquanto a prefeitura providencia a construção de casas, para a transferência definitiva”, comenta o arquiteto. O primeiro capítulo do livro mostra a evolução urbana do Bairro do Recife, com ênfase na herança deixada por holandeses e portugueses no subsolo.
Escavações arqueológicas seriam necessárias para recuperar alicerces de construções (Forte de São Jorge, Arco do Bom Jesus, Arco da Conceição e outros) e outros vestígios de ocupações nos séculos 17 e 18, por exemplo. Os achados mais significativos ficariam expostos. “Há outra cidade dormindo sob nosso piso, o resgate histórico desperta nas pessoas o sentimento de pertencimento”, diz.
Há outra cidade dormindo sob nosso piso, o resgate histórico desperta nas pessoas o sentimento de pertencimento?
arquiteto César Barros
Recife Enxerido é a contribuição de César para a cidade, na linha da arquitetura não solicitada (Unsolicited Architeture). O termo, criado em 2007 por Ole Bouman, diretor do Instituto Holandês de Arquitetos, define as intervenções espontâneas que melhoram a vida do cidadão.
“Queria abrir a discussão com o povo, porque a cidade é o reflexo daquilo que a população opta como desejo”, argumenta. As propostas, garante o arquiteto, são viáveis.