Força no Torpedo: Dormindo Com Seu Celular

Antônio Assis
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SÉRGIO DÁVILA *

O que faz um homem enquanto aguarda o início e durante a sessão que o colocará na história do Congresso brasileiro como o segundo senador cassado por quebra de decoro em 188 anos? Demóstenes Torres mandava e recebia torpedos dedilhando seu iPhone 4.

'Te amo muito', escreveu sua mulher, na manhã da última quarta, durante a sessão fatídica. 'Tb te amo', respondeu ele. 'Serenidade!!!!!', replicou ela. 'Estou sereno', concluiu ele, às 12h21. Antes, a afilhada já tinha escrito: 'Força na peruca!! Família unida com o senhor!! Lembre-se: já venceu!!! Bjos'.

Para 'Jarbas V' (seria o senador Jarbas Vasconcelos, que diz ter votado pela cassação dele?), Demóstenes disparou, às 11h32: 'Deixei em seu gabinete 'memoriais' que explicam o que aconteceu'. Ligou ainda para 'Wellington2' (talvez o ex-senador Wellington Salgado?).

Checou a lista de mensagens trocadas: 'Benedito C' (o número da casa do irmão, Benedito Torres?), 'Kakay' (apelido de seu advogado, Antonio Carlos de Almeida Castro), Luciano Feldens (outro advogado de sua defesa). Olhou a foto da mulher sorrindo na tela de fundo.

Viramos uma civilização de seres cabisbaixos, que se esbarram nas ruas encantados pela telinha luminosa. O vício em celulares inteligentes é tão forte como outros, segundo Leslie A. Perlow, professora de Harvard e autora de 'Sleeping with Your Smartphone' (dormindo com seu celular).

Já existe até palavra para o medo de perder o aparelho: 'nomofobia', do inglês 'no-mobile phobia'. Surgiu como resultado de um estudo que descobriu que 53% dos ouvidos sentem ansiedade semelhante à de ir ao dentista ao pensar em perder o celular, ficar sem bateria ou crédito.

Pelo vício perdemos nossa privacidade todos os dias, como fez Demóstenes na quarta-feira, flagrado por fotógrafos enquanto digitava. Se bem que o hoje ex-senador perdeu mais, por outros hábitos, e não houve peruca que o salvasse. (* Folha de S.Paulo)

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