Sobre Dilma, Temer e o risco da falta de apreço

Antônio Assis
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Blog do Josias de Souza

Certos episódios dizem muito sobre a distância que separa o gabinete da presidente da sala do seu vice. Nos últimos dias de março, Dilma Rousseff deparou-se com uma encruzilhada de agenda.
Entrecruzaram-se na folhinha dois encontros internacionais de primeira linha. Num, os cinco mandachuvas do Brics discutiram na Índia crise financeira internacional. Noutro, representantes de 50 nações tratariam na Coreia do Sul de segurança nuclear.
A presidente optou por voar para Nova Déli. Pediu a Michel Temer que a representasse em Seul. Mobilizado, o aparato de comunicação do Planalto lançou todos os seus holofotes sobre Dilma. Para o vice, providenciou-se um apagão midiático.
Sobre Dilma, soube-se de tudo. Inclusive do turismo de mau gosto financiado pelo suor do contribuinte. Ficou-se sabendo que, para poupar à visitante ilustre o inconveniente de ter de roçar cotovelos com turistas convencionais no Taj Mahal, fechou-se o monumento.
Sobre Temer, soube-se de coisa nenhuma. E não foi por falta de matéria prima. O representante de Dilma discursou para uma platéia que incluía a nata do poder planetário –do americano Barack Obama ao chinês Hu Jintao.
Numa cúpula em que se discutia energia nuclear e terrorismo, Temer realçou os valores pacifistas do Brasil. Foi cumprimentado por Obama. Concentrada em Dilma, a máquina de comunicação do Planalto frangou a fala e a foto.
De volta ao Brasil, Temer revelou-se decepcionado com a desatenção gratuita de que foi alvo. Queixou-se em privado, como é do seu feitio. Os pemedebês que o ouviram levaram o episódio à caderneta dos contenciosos.
De desapreço em menosprezo, vai-se consolidando a impressão de que o vice-presidente e seu partido recebem da titular e do governo dela um tratamento de segunda classe. Avoluma-se a coluna do passivo.
Para sorte de Dilma, Temer não é dado a rompantes. Para azar da presidente, o PMDB não é de deixar contas definitivamente em aberto. Mais cedo ou mais tarde, a caderneta será aberta.

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