José Adalberto Ribeiro*
A “Cidade da Copa” em São Lourenço da Mata city vai custar 1 bilhãozinho de reais para sediar três joguinhos de seleção. Cada pelada custará, portanto, mais ou menos 300 milhões.
Se o “colosso” do Arruda tem moral para receber um show de McCartney, o maior artista do mundo, por que também não poderia sediar os jogos das oitavas de final da Copa do Mundo?!
Que tal construir um ginásio olímpico de 1 bilhão de reais para receber dois ou três shows de Paul McCartney!? O genial criador de “Yesterday” merece todas as glórias.
De minha parte, prefiro mil vezes pagar 300 ou 600 contos de réis para me emocionar com as canções do eterno Beatle, Paul McCartney, no estádio do Arruda.
O papaizinho aqui, Zeus me livre de torcer com a mundiça nos campos de futebol, nem que seja a final da Copa do Mundo. Todos os dribles e todos os gols de todos os jogadores de futebol do mundo não amarram a chuteira de uma melodia de Paul McCartney.
Nós somos os Emirados dos Estados Brasileiros. Dubai é aqui.
Du B é aqui. Hoje as pessoas perguntam: Onde você mora? Para ser chique o cara responde: “Eu moro no 99º. andar de uma Torre do B no Bairro das Torres”.
Quando eu era pirralho os prédios eram chamados de arranha-céus. Depois viraram espigões. Hoje são batizados como torres. Existem torres gêmeas, torres solteiras, torres trigêmeas e até cordilheiras de torres. Os poetas moravam nas torres de marfim e faltava uma torre na Igreja da Lapa boemia de Nelson Gonçalves.
A construtora Du B vai construir uma cordilheira de torres de concreto no Cais Estelita, à moda da cordilheira dos Andes. Se forem construídos arranha-céus até as nuvens, aqui será uma Dubai. Mas, se for para estrangular ainda mais as galerias e despejar os dejetos nos rios e no mangue, triste Dubai tropical!
Mas, o que têm a ver as cordilheiras de torres de concreto, Paul McCartney, a Cidade da Copa e o estádio do Arruda? Tudo a ver.
Existe dinheiro, do BNDES ou de outras fontes, para investir bilhões de reais na construção de estádios de futebol, sem nenhum retorno garantido. Então, qual o mistério da escassez quando se fala na expansão do metrô, na restauração da BR 101 no contorno de Recife, na reforma das unidades da Funase, dos hospitais regionais ou multiplicação de escolas públicas e profissionalizantes?
Há muitos mistérios nestes Emirados tropicais.
No Brasil há um déficit de mais de 20 milhões de moradias, saneamento e escolas. Mas não haverá déficit em vilas olímpicas e estádios bilionários.
O investimento bilionário na “Cidade da Copa” se justifica, dizem, por conta do chamado “Legado” e São Lourenço será um El Dourado de prosperidade nesta terra dos altos coqueiros.
Lembrei-me do genial Paul McCartney e de São Lourenço da Mata ao ver noticiário sobre a fuga de pivetes na Funase de Itaquera, em São Paulo, onde será construído o novo estádio do Coríntians, que custará a bagatela de 1 bilhão de reais, com financiamento do BNDES.
Nos céus e na terra, houve uma operação de guerra na Fundação de Atendimento ao menor em São Paulo. Dois pivetes fugaram, como dizem na linguagem policial. Tropas de choque. Militares armados de metralhadoras. Bombas de gás lacrimogênio. Bombas de efeito moral. Bombas de efeito imoral. Milhões de helicópteros, soldados, repórteres, milhões de dinheiros são acionados para capturar os dois menores.
O futuro estádio bilionário do Itaquerão, os estádios da Copa e as indigentes Fundações dos Menores são vizinhos de fortunas e infortúnios nesta República do futebol e de outros esportes não republicanos. Roubar no Brasil é um esporte milionário praticado pelas elites transviadas. Os menores da Fundação praticam micros roubos. E também as selvagerias que fazem parte do mundo cão.
O bondoso BNDES vai despejar pelo menos 500 milhões de reais na construção do Itaquerão. A República da Fifa não é santa, mas opera milagres. Subitamente, não mais subitamente, surgiram bilhões e bilhões de reais para construir palácios de esportes em todo o Brasil.
São Lourenço da Mata é a nossa Itaquera e Paul McCartney é o
nosso colírio.
Du B quer construir arranha-céus à moda de Dubai nesta cidade lendária das palafitas e dos mangues. Mas, o céu não é perto.
*Jornalista