Forte de Pau Amarelo é transformado em abrigo por usuários de drogas

Antônio Assis
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Construção secular, a fortaleza está sem uso e sem vigilantes
Foto: Guga Matos/JC Imagem

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Cleide Alves
JC Online

O Forte de Pau Amarelo, construção do século 18 à beira-mar do município de Paulista, no Grande Recife, teve cinco portas arrombadas e está servindo de abrigo para usuários de drogas. Vestígios da ocupação indevida da edificação, tombada como monumento nacional, estão espalhados nas salas: lixo, latas de cola, pedaços de papelão, cacos de vidro, travesseiros, roupas e fezes humanas. O alpendre, usado como cocheira, está cheio de cocô de cavalo.

De acordo com moradores do bairro de Pau Amarelo, vândalos roubaram telhas do prédio e destruíram a louça sanitária dos banheiros. Nas salas ocupadas faltam lâmpadas de luminárias e interruptores de luz, as paredes estão cobertas de lodo e infestadas de cupins, há plantas descendo pelos caibros apodrecidos e quebrados do telhado. “Estamos morrendo de vergonha da situação”, declaram comerciantes das proximidades do forte, que preferem não se identificar.

A fortificação, afirmam comerciantes e moradores, vem se deteriorando nos dois últimos anos, com pichações nas paredes e nos seis canhões de ferro do primeiro pavimento. Anteontem pela manhã, folhas de árvores cobriam a rampa de acesso ao piso superior e a grama na frente da prédio. “Casa suja não é problema de falta de verba, é o descaso e o abandono com o patrimônio”, acrescenta um dos comerciantes. “A prefeitura não limpa o forte.”

FALTA VIGILÂNCIA

“Arrombaram as portas e levam as telhas porque não há guardas. Quando o prédio era vigiado por guardas municipais, isso não acontecia”, ressalta Elano Marques da Silva Filho, pescador e morador do bairro. “Muita gente não percebe a riqueza do Forte de Pau Amarelo, pensa que é só um pedaço de pedra, mas isso aqui é cultura, é a nossa história”, diz ele. “Seria ótimo se colocassem feirinha típica e lojinhas de artesanato no forte”, sugere.

Pescador e vizinho do Forte de Pau Amarelo há 60 anos, Diogo Correia da Silva também propõe o uso cultural para a edificação. “O forte aberto seria uma atração para Paulista, mas até a placa contando a história dele foi destruída. Ninguém consegue ler mais nada”, observa Diogo Correia. “Toda sexta-feira o pátio do forte fica cheio de carro, de gente que vem tomar caldinho nos bares. As pessoas fotografam essa sujeira com o celular”, comenta.

Segundo o secretário de Turismo e Cultura de Paulista, Fabiano Mendonça, o município está elaborando o projeto de recuperação do Forte de Pau Amarelo. O estudo preliminar foi aprovado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) há 15 dias, mas falta detalhar a obra. “Vamos fazer o trabalho em duas etapas, começando pela fortificação. A segunda fase contempla o ordenamento da área em volta, ocupada irregularmente por bares”, avisa.

SEM PRAZO

O secretário ainda não sabe o valor da obra nem o tempo necessário para execução. “Estamos definindo”, afirma. Os recursos, diz ele, podem ser do município, dos governos federal ou estadual ou da iniciativa privada. “Vamos bater nessas portas. As possibilidades de captação são imensas.” Em outubro do ano passado, Fabiano Mendonça prometeu começar em 30 dias a obra de recuperação do forte. Nada foi feito.

Ele informa que a proposta de levar a Secretaria de Turismo para o Forte de Pau Amarelo e ocupar as salas com centro de informações turísticas, casa de artesanato e exposições de artistas locais está mantida. Sobre a falta de guarda no imóvel, o secretário alega que “no momento não temos como botar vigia porque os guardas municipais trabalham desarmados e precisamos preservar a integridade física deles.” A limpeza, garante, seria realizada nos próximos dias.

“É importante dar um uso a Forte de Pau Amarelo e orientamos a prefeitura nas intervenções sugeridas, como instalação de coberta de proteção contra o sol, climatização de salas e ampliação de banheiros”, declara Renata Borba, superintendente do Iphan em Pernambuco.

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