Uma das filhas do ex-deputado desaparecido Rubens Paiva recebeu nesta
terça-feira (27) do governo do Rio Grande do Sul cópias de dois
documentos que comprovam que ele esteve detido em uma unidade do
DOI-Codi no Rio de Janeiro durante a ditadura militar.
Maria Beatriz Paiva Keller, 52, que tinha dez anos quando o pai sumiu,
em 1971, mora na Suíça e passava férias no Brasil quando ficou sabendo
que a ficha de entrada de Rubens Paiva no órgão havia sido achada pela
Polícia Civil gaúcha nos arquivos de um militar reformado morto em Porto
Alegre.
No início do mês, o coronel Júlio Miguel Molinas Dias, 78, foi morto a
tiros na capital gaúcha. A investigação recolheu documentos da casa dele
para tentar encontrar uma pista dos criminosos. A polícia acabou
localizando nos arquivos o ofício sobre o ex-deputado e papéis sobre o
atentado do Riocentro, em 1981.
"A família ainda não sabe onde ele foi enterrado e eu temo pela
verdade", disse Maria Beatriz, que é funcionária da Embaixada do Brasil
em Berna.
Na cerimônia, emocionada, a filha falou que o mistério do
desaparecimento é uma história inacabada, como um "filme que não tem
fim". Mais tarde, a jornalistas, defendeu um plebiscito sobre a Lei da
Anistia, que impede punição por crimes cometidos durante o regime.
É a primeira vez que surge uma prova documental de que Paiva esteve no
DOI-Codi, órgão de repressão da ditadura. Anteriormente, havia apenas
testemunhos da presença dele no local.
A íntegra dos documentos do coronel foi entregue formalmente hoje pelo
governador Tarso Genro (PT) à Comissão da Verdade do Estado, instaurada
em julho para investigar crimes do regime militar.
O coordenador da Comissão Nacional da Verdade, Claudio Fonteles, também esteve no evento e recebeu cópias de todos os papéis.
Nesta terça-feira, foram divulgadas apenas cópias de ofícios envolvendo o
caso Rubens Paiva. Além da cópia da ficha, há um manuscrito informando
que os pertences do carro do ex-deputado foram retirados por um oficial
identificado como "capitão Santabaia".