Projeto Tripletes leva inovação em saúde a Fernando de Noronha

Antônio Assis
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 O projeto está em fase de coleta de dados no arquipélago

O arquipélago de Fernando de Noronha é o cenário de avanços científicos com a chegada do Projeto Tripletes - Inteligência Artificial para Promoção da Saúde. Liderado por professoras e pesquisadores do Centro Acadêmico de Vitória (CAV) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), a iniciativa tem como foco o ambiente alimentar da população e o diagnóstico precoce de doenças crônicas, tendo como aliada a inteligência artificial (IA). O projeto está em fase de coleta de dados no arquipélago, ação iniciada no último dia 3 e que segue até o dia 12 deste mês.

O projeto é coordenado pelas professoras Carol Leandro (também pró-reitora de Pós-Graduação da UFPE) e Wylla Ferreira e Silva, ambas do CAV, e pelo pesquisador André Luiz de Góes Pacheco, pós-doutorando do Programa de Pós-Graduação em Nutrição, Atividade Física e Plasticidade Fenotípica (PPGNAFPF) do CAV. O objetivo principal é analisar o ambiente alimentar dos moradores da ilha e identificar correlações com o risco de desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis, como hipertensão e diabetes tipo .

Durante esta primeira etapa de campo, cerca de 300 adultos residentes em Fernando de Noronha estão sendo avaliados. Entre os pontos analisados estão composição corporal, consumo alimentar, ambiente alimentar, exercício físico e situação de saúde. Além disso, o voluntário responde a um questionário on-line com demais informações sobre vida e saúde na ilha. “Esperamos que, com esses dados, a situação de saúde e questões sobre dificuldade no acesso a alimentos in natura de quem vive na ilha ganhe maior visibilidade, podendo nortear possíveis políticas públicas futuras”, afirma Fabiane Freitas, mestranda no PPGNAFPF-CAV e uma das responsáveis pela aplicação dos protocolos de avaliação.

“Os dados coletados formarão uma base de dados, que será processada por inteligência artificial, que permitirá a replicação dos dados e realização de uma análise preditiva, que permitirá identificar precocemente fatores de risco de maneira mais sensível do que métodos tradicionais”, diz Gabriela Carvalho, pós-doutoranda do PPGNAFPF-CAV e uma das pesquisadoras que conduz a coleta de dados.

TRIPLETES – A inovação do projeto está na criação dos chamados tripletes, que são agrupamentos compostos por três vértices conectados em um grafo, contendo variáveis morfológicas, comportamentais, bioquímicas e fisiológicas que, quando processados por modelos de inteligência artificial, permitem o diagnóstico pré-clínico de doenças com maior precisão.

“Em nosso estudo, cada vértice representa uma variável coletada de indivíduos. A partir disso, criamos dois tipos de redes complexas (grafos e hipergrafos) para cada pessoa e agrupamos os dados em perfis distintos de acordo com suas comorbidades”, explica André Pacheco. “Com a análise das centralidades (propriedades inerentes às redes) dos vértices e das centralidades desses tripletes, identificamos padrões únicos entre os grupos e chamamos esses padrões de assinaturas topológicas. Usando essas assinaturas, desenvolvemos uma IA capaz de reconhecer a qual grupo um novo indivíduo pertence”, completa.

Os tripletes podem servir como base para aprimorar algoritmos já existentes, garantindo que sejam alimentados com dados de alta qualidade e adaptados à realidade local. “Esperamos, ao final da pesquisa, criar um aplicativo para uso em postos de saúde, auxiliando na identificação precoce de comorbidades como obesidade, diabetes e hipertensão, facilitando o acesso a ações preventivas”, ressalta André Pacheco.

PESQUISA – Com financiamento da Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (Facepe), a ação envolve uma equipe interdisciplinar formada por especialistas do CAV-UFPE, do Centro de Informática (CIn) da UFPE/Campus Recife e do Departamento de Matemática da Unidade Acadêmica do Cabo de Santo Agostinho da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE).

O Projeto Tripletes representa um passo estratégico na integração entre ciência, tecnologia e saúde preventiva, com potencial de transformar o monitoramento e a prevenção de doenças crônicas em todo o país. Pela primeira vez, um estudo dessa magnitude é realizado em Fernando de Noronha, local que possui particularidades na comparação com o continente. Gabriela Carvalho lista algumas delas: dificuldades em acessar a alimentação, apesar de não haver altas taxas de desemprego; não há produção local de produtos orgânicos; há limitação na produção caseira de alimentos, como hortaliças, devido a questões ambientais; preços elevados dos alimentos e, em alguns casos, falta de produtos, uma vez que chegam por via marítima.

“Além disso, o acesso à água mineral também é restrito, fazendo com que muitas pessoas optem pela água do chafariz, que é uma água dessalinizada”, detalha Gabriela Carvalho. Outro ponto é que, para ter acesso a questões de saúde mais complexas, é necessário ir ao continente.

O Projeto Tripletes será ampliado nas fases seguintes. Haverá coleta de dados com pacientes do Hospital das Clínicas (HC) da UFPE, no Recife, e com moradores de Vitória de Santo Antão, na Zona da Mata de Pernambuco. Este município já foi, inclusive, palco de ação piloto do Tripletes, este ano, junto com Maputo, em Moçambique.

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