Racismo na sala de aula veio à tona em caso de 2008 em Guarujá - Simone Marinho / Agência O Globo
Luiza Souto
O Globo
O Tribunal de Justiça de São Paulo condenou o Governo do Estado e uma professora estadual de Guarujá, no litoral paulista, a indenizar dois alunos por danos morais após a profissional ter feito, em sala de aula, comentários racistas diretamente contra eles. O caso aconteceu em 2007 na Escola Estadual Professora Raquel de Castro Ferreira. A sentença fixada pela Justiça é de R$ 10 mil para cada autor da ação. Cabe recurso.

A estudante gravou as declarações e as incluiu no processo. Outras testemunhas de acusação confirmaram, em depoimento, que a docente se referiu às pessoas de pele negra como “burras” e que “não conseguem aprender".A colega de turma Érika Oliveira do Nascimento afirmou ainda que, enquanto assistiam aulas onde se falava sobre o “Dia da Consciência Negra”, a professora teria dito que pessoas de pele negra “não são capazes”, que “são sujas, imundas”, e que “as escolas deveriam separar as pessoas de pele negra das demais”.
Em 2011, o Estado foi condenado a pagar o montante de R$ 5 mil para cada autor, e entrou com recurso argumentando que o caso não passou de um “mero aborrecimento”. O desembargador Rebouças de Carvalho considerou, no entanto, que “os danos morais são evidentes”. Desta vez, Estado e a professora deverão pagar o valor de R$ 10 mil, para cada autor da ação, mais as custas e despesas processuais, e a verba honorária na ação de 15% sobre o valor da condenação.
“Os fatos ocorreram no interior de uma escola pública e motivado por comentário infeliz e impróprio, ainda que episódico, e vindo de uma professora, ganha ainda contornos mais graves, isso porque a escola é o local da convivência, do incentivo à liberdade da tolerância e do respeito e, ainda, da promoção da dignidade humana. Referido tipo de comportamento de quem tem o dever de ensinar não pode ser admitido, devendo ser coibido”, escreveu o desembargador.
Procurada, a assessoria de imprensa da Procuradoria Geral do Estado (PGE) informou que irá esperar a intimação para decidir se vai recorrer da decisão. A secretaria de Educação não se pronunciou. A professora, que esse ano tentou se eleger como vereadora pelo PTB, e sua defesa, não foram localizadas para comentar o caso. A defesa dos estudantes disse que só iria comentar após ler a decisão.
Coordenador do Educafro, Frei David comemorou a decisão judicial:
O Brasil só vai se libertar do racismo se mais e mais pessoas fizeram com o esse jovem e levarem o caso adiante. Infelizmente, de cada 100 denúncias de racismo, 95 são vergonhosamente arquivadas. (Colaborou: Paula Ferreira)