Ex-doméstica sofre com artrose avançada enquanto aguarda saúde pública

Antônio Assis
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Luana Nova
Folha-PE

“Eu estou esperando a minha hora de morrer”. Nos últimos dois meses, essa tem sido a sentença mais proferida por Maria do Carmo Albuquerque Barbosa, uma viúva de 59 anos que deixou de andar e se afundou na depressão após ter sido diagnosticada com artrose em estado avançado. Há um ano ela enfrenta a saga de marcar uma consulta gratuita com um ortopedista e há seis meses descobriu que o caso só seria resolvido com a implantação de uma prótese de joelho. Desde então, a mulher aguarda dia e noite - gemendo e gritando de dor - por um hospital público que realize esse procedimento.

Antes dessa condição, Maria do Carmo trabalhava. Era doméstica. Agora ela só vê a vida passar deitada em uma cama que fica no meio da cozinha de sua casa, na estreita rua 13 de junho, no bairro do Rosarinho, Zona Norte do Recife. Sua única filha, Isabele Barbosa dos Santos, 26 anos, vive com o marido na casa ao lado e largou o emprego para cuidar da genitora. A família sobrevive com R$ 685/mês, advindo do bolsa-família e do aluguel de duas casas que Maria do Carmo tem na mesma rua. Para Isabele, tudo mudou em sua vida. “Eu ia começar meu curso de Radiologia esse ano e não pude. Às vezes, vou dormir às 5h da manhã com ela gritando de dor”, desabafou.

Por falta de circulação, a perna direita da ex-doméstica está bastante inchada. Além da artrose, há nove anos ela teve trombose no mesmo membro. Todavia, conseguiu colocar um filtro como forma de tratamento. Agora, do Carmo afirma que o joelho direito arde, queima e coça. Para piorar a condição, no período do carnaval ela contraiu chikungunya, doença que também provoca fortes dores nas articulações. Conforme a filha, nada alivia o sofrimento de Maria. “Nem massagem dá jeito, mas eu faço para acalmá-la. Ela vive cheia de analgésico”.

Segundo Isabele, os cuidados com a doente requerem muito esforço e paciência, principalmente na hora de comer e tomar banho. “Eu tenho que pedir uma cadeira de rodas emprestada da vizinha, levar a minha mãe para fora de casa e usar um balde. Ela grita e diz que estou judiando dela”. Dois meses atrás, Maria do Carmo fazia as necessidades em um penico, agora, usa fraldas 24h. Para a filha, o mais difícil é ver a mãe nessa situação e não poder fazer nada para mudar. “Mainha vê coisa aqui dentro de casa, tem pesadelo. A dor já está prejudicando a mente dela”, contou preocupada.

Com uma voz trêmula, Maria do Carmo acredita que perdeu tudo. “Não consigo trabalhar, ir ao banheiro, tomar banho, comer, ir à igreja... Não posso fazer nada”, contou enfatizando que trabalhar e frequentar a igreja são as atividades que ela mais sente falta. De acordo com Isabele, a mãe era uma mulher que gostava de sair, de se arrumar, de viver. “Minha mãe envelheceu 20 anos em um. Eu quero vê-la feliz novamente”, suplicou ao ressaltar que ela perdeu muito peso.

De acordo com Isabele, depois de passar seis meses buscando hospitais públicos, o único lugar que atendeu sua mãe foi o Hospital Universitário Oswaldo Cruz, mas o médico teria afirmado que não tinha a prótese necessária porque era muito cara para o Estado pagar, sobretudo em um momento de crise. “Eu ainda telefono para saber se a peça chegou e nada”, declarou. A Folha de Pernambuco procurou a assessoria do hospital, mas não obteve resposta até o fechamento desta edição. Ainda segundo Isabele, ela teria entrado em contato com a ouvidoria da Secretaria Estadual de Saúde e solicitado que Maria do Carmo fosse encaminhada a um especialista. O prazo é 5 de agosto.

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