Bernardo Mello Franco - Folha de S.Paulo
Com raras exceções, Michel Temer montou um ministério que se divide entre trapalhões e investigados. No primeiro grupo, estão políticos que tropeçam na própria língua, expõem o governo a vexames e são obrigados a voltar atrás. No segundo, os que vão dormir sem saber se acordarão com o despertador ou com uma visita da Polícia Federal.
Agora o presidente interino conseguiu encontrar uma auxiliar que joga nos dois times ao mesmo tempo. Trata-se de Fátima Pelaes, a nova chefe da Secretaria da Mulher.
A rigor, a ex-deputada nem integra o ministério. Embora as mulheres sejam maioria na população brasileira, Temer escalou uma equipe só de homens brancos, honrando as tradições da República Velha.

Pelaes é a mulher errada no lugar errado. Quando estava na Câmara, defendeu a proibição do aborto em casos de estupro, o que significa submeter a mulher violentada a uma nova violência em nome das crenças religiosas de terceiros. Depois recuou e prometeu respeitar a lei em vigor, que permite a interrupção da gravidez nessas situações.
O vaivém garantiu a vaga da peemedebista no time dos trapalhões. Depois o repórter Leandro Colon revelou que ela também é investigada num escândalo de desvio de emendas parlamentares. O Ministério Público a acusa de integrar uma "articulação criminosa" que garfou R$ 4 milhões do Ministério do Turismo.
Procurada, Pelaes disse estar "tranquila de que tudo será esclarecido".
A reportagem foi publicada pela Folha na sexta (3). No mesmo dia, o "Diário Oficial" estampou a nomeação da nova auxiliar de Temer.