Moradores de Olinda querem ressarcimento de prejuízos com inundações

Antônio Assis
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Bairro de Jardim Fragoso ainda tem ruas alagadas e cheia de buracos por conta das chuvas
Bobby Fabisak/JC Imagem

JC Online

A sensação de abandono é generalizada. Mais de 20 dias após as fortes chuvas que inundaram dez bairros de Olinda,muitos moradores que perderam bens como móveis, veículos e documentos ainda não recuperaram nada e não sabem o que fazer para se preparar pro inverno, que começou oficialmente na segunda-feira (20). Outros se organizam para acionar a Justiça e pedir ressarcimento dos prejuízos. Todos estão convencidos de que a situação foi provocada pela obra de alargamento do Canal do Fragoso/Via Metropolitana Norte e querem providências. 

Moradora de Jardim Atlântico, a coordenadora pedagógica Ana Rosina, 64 anos, se prepara para procurar a defensoria pública. “Fizemos levantamento e nosso prejuízo foi de R$ 51 mil, perdemos tudo. Estão dizendo que essa obra está cheia de falhas de engenharia, é uma irresponsabilidade. Eu, meu marido, nosso filho e a babá de um primo (que estava com a perna quebrada) tivemos de sair num colchão inflável.”

Nas ruas mais próximas ao canal, o cenário ainda é de degradação. Na última terça-feira, a Rua José Alexandre de Carvalho ainda estava com pontos de alagamento, vazamento (não se sabe se de água ou esgoto) e tomada por buracos. Pequenos canais que levam água até o do Fragoso estavam cheios de areia. Lixo, entulhos e metralhas se espalhavam pelas esquinas. “A gente aqui é desprezada. O canal está sujo e qualquer chuva enche. Estou construindo o primeiro andar na minha casa para na próxima enchente ir pra lá”, diz Severina Ribeiro, 70, enquanto revolve areia para a obra.

A cena é vista em vários pontos. Quem pode está construindo mais um pavimento, outros, levantando o piso e alguns, erguendo barreiras nas portas. Há também quem pense em se mudar. É o caso de Severina Maria de Oliveira, 65. “Eu e meu marido (que é especial) moramos aqui há 40 anos e isso nunca aconteceu. Por causa dessa obra do canal, não tem pra onde a água escorrer. Perdemos muita coisa, móveis, roupas, documentos. O que dá a gente vai ajeitando, ninguém vai dar nada pra gente”, lamenta.

Na sexta-feira (17), o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) voltou a pedir à Justiça a suspensão das obras do revestimento do Canal do Fragoso e da Implantação da Via Metropolitana Norte, além de medidas emergenciais para minorar os alagamentos. O pedido já havia sido feito em 2015, chegou a ser concedido e depois cassado pelo Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE).

Conforme técnicos do MPPE, o serviço de alargamento do canal está sendo executado em uma seção intermediária e no mesmo sentido do fluxo da água, o que contraria as boas práticas da engenharia hidráulica, que prezam por iniciar as obras sempre no final do corpo de água e seguir alargando em direção à nascente. O erro também foi apontado pelo Tribunal de Contas (TCE), que deu prazo até 4 de julho para a Companhia de Habitação e Obras (Cehab) apresentar soluções e um cronograma das atividades. O MPPE também apontou muitos resíduos nos Canais do Fragoso e dos Bultrins, acusando omissão do poder público na limpeza. A obra do Fragoso está com atraso de 29 meses.

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