Museu de Arte Contemporânea fecha as portas

Antônio Assis
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Marcílio Albuquerque
Folha-PE

O Ministério Público instaurou um inquérito civil para apurar o estado de abandono encontrado no conjunto arquitetônico do Museu de Arte Contemporânea (MAC), localizado no Sítio Histórico de Olinda. O patrimônio tombado, datado de 1765, está de portas fechadas para os cidadãos.
O equipamento apresenta rachaduras, infiltrações e até risco de desabamento. Os problemas começam antes mesmo de adentrar o prédio, com a fachada sendo alvo de completo vandalismo.
Felipe Ribeiro/Folha de Pernambuco
Placa de apresentação do museu e a capela de São Pedro de Advíncola foram vandalizadas
Portas e janelas estão avariadas e as pichações estão por toda a parte. A ameaça, além de física, também é cultural. Isso porque as mais de quatro mil obras que compõem o acervo não contam com acomodação adequada. A Fundarpe foi notificada para elaborar um laudo sobre a situação. No entanto, ainda não existe prazo estabelecido para reformas no local.

“A nossa intenção agora é de exigir a recomposição dos danos, devolvendo o bem para a população. Se for constatada negligência com o patrimônio público, o caso pode ser remetido diretamente à Justiça e os responsáveis, responderem criminalmente”, explica a promotora Belize Câmara, à frente da medida.
O documento expedido exige dos órgãos estadual, municipal e federal uma avaliação dos prejuízos estruturais, detalhando riscos e avarias. O espaço também apresenta falhas na segurança. Em julho de 2010, um quadro do artista Cândido Portinari, avaliado em R$ 1,5 milhão, foi roubado do museu, sendo posteriormente recuperado. “Um patrimônio extraordinário continua vulnerável e ninguém se movimenta para ajudar” acrescentou.
    Os problemas do centro cultural são notórios e, sem visitantes, seguem a incomodar os funcionários. “A ventania causa o afastamento das telhas, gerando muitas goteiras e infiltrações pelas paredes. Até já havia se pensado em colocar um forro, mas como o prédio é protegido isso não é permitido”, afirma um dos funcionários, que prefere não se identificar. Na sala onde já ficaram expostas peças de importância internacional, agora tudo é vazio.

    Felipe Ribeiro/Folha de Pernambuco
    Rachaduras, infiltrações e risco de desabamento levaram MPPE a instaurar inquérito
    Obras encaixotadas

    A maioria das obras está encaixotada em uma das salas do piso superior. “Somente uma reforma geral nos daria uma solução”, afirma outro servidor.
    O conjunto é composto por quatro imóveis. Além deles, a área externa comporta a capela de São Pedro Advíncula e a praça Assis Chateaubriand. Tudo está deteriorado. Escadarias estão quebradas e falta acessibilidade.
    De passagem pela cidade, a turista gaúcha Silvia Mendes, 36, lamentou a situação. “É uma perda grande para a arte e para os olindenses”, opinou.
    De acordo com o superintendente do Iphan, Yves Zamboni, haverá esforços para resgatar o MAC. “Ainda não temos um apanhado geral da situação, nem fomos notificados oficialmente pelo Ministério Público. No entanto, é de nosso interesse promover essa reabertura o quanto antes, dialogando com os diversos setores envolvidos”, disse o gestor.
    Ocupando a cadeira há poucos dias, ele diz desconhecer o tamanho do problema encontrado no museu, inaugurado em 1966. Há dois anos, o projeto inicial de recuperação do espaço estava orçado em cerca de R$ 50 mil.
    Neste intervalo, a degradação foi ampliada, não havendo novo levantamento dos custos. Entre os serviços elencados está a pintura, projetos de iluminação e segurança, além da implantação de câmeras de monitoramento. Não há informação se a verba estaria assegurada.
    Artista denunciou situação
    Para além dos visitantes órfãos do espaço, o museu com as atividades interrompidas também representa prejuízos para a classe artística.
    O artista plástico pernambucano Renato Valle encabeçou a denúncia ao MP sobre o quadro de abandono encontrado do MAC. “Todo o acervo do museu sofre com problemas de acomodação e climatização. A situação é vergonhosa. Se não há condições para dar conta dos trabalhos, que sejam então devolvidos para os seus respectivos autores”, opinou.
    O trabalho de Valle, um painel em tinta óleo, com 2,7 metros de largura, batizado de “O Velório”, também já sofreu avarias. “Tive que restaurar do próprio bolso e nunca fui ressarcido”, criticou.
    Procurada pela Folha de Pernambuco, a Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), não delegou representantes para comentar o assunto.
    Em nota, a assessoria informou que reconhece a necessidade de melhorias na infraestrutura do equipamento e, nesse sentido, está trabalhando atualmente em parceria com a Associação dos Amigos do Museu de Arte Contemporânea no desenvolvimento de um amplo Projeto de Restauro, já contratado por meio da Associação, com o patrocínio da Petrobras. Prazos e valores não foram detalhados à Folha.

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