Metade dos brasileiros tem medo do desemprego

Antônio Assis
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Raquel Freitas
Folha-PE
Metade da população brasileira tem medo de perder o emprego. A mes­ma fatia acredita que a própria vida pode piorar este ano, de acordo com levantamento realizado pela agência Hello Research. Apesar de parecer simplista associar essa falta de confiança à instabilidade econômica, o diretor de operações da empresa, Denis Bertoncello, diz que não há como dissociar o atual cenário das crises política e econômica. Fatos que têm repercutido também no desempenho das indústrias e do comércio, freando a produção e o consumo.
    Essa fragilidade elevou à medida que os conflitos políticos se acentuaram. Dados da pesquisa revelam que, em dezembro, o receio de perder o emprego atingia 36% dos entrevistados, enquanto 54% acreditavam estar seguros e 10% não sabiam. Três meses depois os números mudaram: 50% disseram ter medo, 35% falaram que temiam. Os 15% restante não opinaram. Em um trimestre, houve o aumento proporcional de 39% do número de pessoas com medo de perder o posto de trabalho.

    Medo do desemprego é uma constante
    Empregada, a operadora de telemarketing Siumara Ramos, de 22 anos, disse que o medo do amanhã está cada vez mais presente. “Não sabemos o que pode acontecer diante de tantas notícias negativas”, afirmou, frisando que, se ficar desempregada, a alternativa será procurar trabalho na área de nutrição, atividade na qual tem curso técnico. Com experiência de um ano e seis meses no mercado de telemarketing, ela revelou conhecer colegas de profissão que perderam o emprego. “Ao mesmo tempo em que demite, admite bastante também”, ponderou.

    Já a também operadora Camila Borges, de 22 anos, ficar sem emprego é uma preocupação. Apesar de não ter filhos, Camila depende da renda para sustentar a casa, que divide com o marido. “Do meu dinheiro, pago as contas de luz e de água. Sem dúvida, ficar sem esse dinheiro impactaria a nossa rotina”, disse. Para evitar o tão temido desemprego, Camila afirmou que a dedicação e a ética na função são verdadeiras parceiras.
    É o que pensa o motoboy Ivanildo Bezerra, de 47 anos. Para não entrar nas estatísticas dos quase 300 colegas demitidos este ano, Bezerra revelou focar na simpatia, na atenção e na cordialidade com os clientes. “Quem não tem medo, não é? Principalmente para quem tem idade mais avançada. O medo não é ficar desempregado, mas de não se recolocar no mercado de trabalho”, explicou. Para driblar essa realidade, o eletricista Francisco Gomes, de 39 anos, assegurou que a saída pode estar na especialização. “Estou cursando o técnico em eletrônica e a ideia é fazer engenharia elétrica”.
    O medo de perder o emprego não o único sentimento que incomoda os brasileiros. A Hello Research mostrou que 47% tinham esperança de que a própria vida podia melhorar ainda este ano. Um trimestre depois, o percentual caiu para 42%. Situação que vem afetando o comércio, disse o economista da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de Pernambuco (Fecomércio), Rafael Ramos. “Se caracterizando como uma perda da renda e uma confiança abalada por parte das pessoas que continua no mercado de trabalho”, analisou.

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