AMAMENTAR EM PÚBLICO É UM DIREITO DA MULHER

Antônio Assis
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Marcionila Teixeira
Diário de Pernambuco

Maria Francisca da Silva, 21, alimenta seu bebê com o próprio leite materno. Tem o precioso líquido em abundância. Caso queira, pode, inclusive, doá-lo. Dia desses, passou no Banco de Leite Humano do Imip para dar continuidade às orientações médicas sobre sua amamentação. O procedimento faz parte da rotina para as parturientes da unidade. Mulheres que deram à luz em outros locais também podem ser atendidas no banco de leite. Naquele dia, Maria foi a única a aceitar posar para fotos enquanto amamentava sua menina. Apesar de ser uma função natural, muitas mulheres ainda hoje são constrangidas ao alimentarem seus bebês em público.

Nélia de Paula tem três filhos e é coordenadora do grupo Ishtar, direcionado a mães que desejam dividir a experiência do parto normal, amamentação entre outras informações. Diz nunca ter tido problemas ao amamentar em público, mas conhece histórias de outras mulheres. Uma delas chegou a ser convidada a sair do ambiente, considerado um dos espaços turísticos mais importantes do Recife. Um mamaço na frente do local foi o suficiente para um pedido de desculpas do gestor.

“Tem a questão da própria mulher se sentir constrangida ao colocar o seio de fora, tem a opinião do companheiro, se ele quer ou gosta, e tem o corpo da mulher ser visto como objeto”, pontua Nélia de Paula. Se não há problema na mulher expor os seios nos desfiles de carnaval ou em revistas, por que fazê-lo durante a amamentação torna-se algo tão constrangedor? “A globeleza não tem problema, mas quando o seio aparece em uma função natural constrange”, completa Nélia.

Na contramão do movimento conservador, no ano passado, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), sancionou lei que prevê multa de R$ 500 para quem impedir a amamentação em público. Em caso de reincidência, a multa terá o valor dobrado. Em seguida, o estado do Rio de Janeiro também aprovou lei semelhante, com multas bem maiores, que vão de R$ 1.300 a R$ 2.700. Em Pernambuco, não há lei nesse sentido.

E por falar em amamentação e banco de leite do Imip, existe uma campanha em curso para arrecadação de vidros de café solúvel com tampa rosqueável. No frasco ficará acondicionado o leite materno doado. O mesmo que servirá de alimento a bebês prematuros ou doentes. Hoje o hospital precisa de algo em torno de 2 mil frascos por semana. As doações, no entanto, estão sofrendo uma baixa crescente em todo o país porque os consumidores estão substituindo o vidro pelo sachê de café, mais em conta.

O tal vidro específico de café solúvel é revestido com boro silicato e resiste às temperaturas da pasteurização e ao resfriamento brusco pós-pasteurização. Por isso o Imip não recebe outro tipo de vidro. Outro espaço aberto para doações de vidro é a Associação Meio Ambiente Preservar e Educar (Amape). Fica na Estrada do Arraial, em frente ao número 4.484, em Casa Amarela

Funciona de segunda a sexta-feira, das 7h às 17h, e nos sábados, das 7h às 12h. Além do Imip, recebem o produto entregue à associação os hospitais Agamenon Magalhães e das Clínicas. Os candidatos a doadores também podem se comunicar com o Banco de Leite Humano do Imip, através dos telefones 2122.4719 ou 2122.4103 ou entregar as doações no térreo do ambulatório central, de segunda a sexta-feira, das 8h às 12h e 13 às 17h.

A médica pediatra Vilneide Braga, do Banco de Leite do Imip, não tem ideia do tempo médio de duração de um vidro como esse, mas informa que eles quebram com facilidade durante o manuseio e por isso precisam ser repostos constantemente. Sem o material, não tem como dar andamento ao trabalho da unidade.

O banco de leite, explica a médica, é um centro de promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno. Além disso, coleta, seleciona, processa, realiza o controle de qualidade prospectivo e retrospectivo do leite humano ordenhado doado e distribui, ajudando a salvar milhares de vidas de recém-nascidos e lactentes prematuros ou doentes. Nada mais justo que ajudar a iniciativa. Nada mais coerente que estimular a amamentação. Seja ela em espaços públicos ou privados.

Foto: Karina Moraes/Esp. DP

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