Folha-PE
Um dia após o PMDB ter decidido desembarcar do governo por aclamação, a resistência dos ministros do partido em deixar seus cargos provocou embaraços que podem atrapalhar a reforma ministerial que o Palácio do Planalto desejava concluir até o fim da semana para recompor a base aliada e evitar a aprovação do processo de impeachment. Ontem, lideranças do partido, como a ministra Kátia Abreu e prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, manifestaram o desejo de continuar apoiando o Palácio, que deflagrou uma campanha para barrar o processo de impeachment da presidente, através da redistribuição de postos na administração. Até mesmo oposicionistas como Aécio Neves e Marina Silva fizeram questão de criticar a decisão, orquestrada por Temer.

Sem a presença de Michel Temer, que está em São Paulo e de nenhum senador, o evento ficou esvaziado. Mesmo assim, o vice-presidente do PMDB, Eliseu Padilha, garantiu que, com a decisão de terça, o partido respondeu “à ânsia da base partidária” e “pavimentou a estrada” para o partido chegar “em alta velocidade a 2018. Não podemos abrir mão do protagonismo nacional”, colocou.
No entanto, a determinação de entregar todos os cargos ocupados pela sigla no governo pode não ser seguida por peemedebistas pró-governo. Os ministros Marcelo Castro (Saúde) e Celso Pansera (Ciência e Tecnologia) estiveram ontem com Dilma. Castro afirmou a políticos com quem conversou que do cargo “só sai amarrado”. Deputados que se dizem ainda indefinidos quanto a apoiar ou não o impeachment avaliaram que a direção do PMDB pode ter dado um tiro no pé, antecipando o rompimento.
Pelas redes sociais, a ministra Kátia Abreu (Agricultura) disse que continuará “no governo e no PMDB. Ao lado do Brasil no enfrentamento da crise”. Além disso, anunciou que os outros cinco ministros do PMDB - Mauro Lopes (Aviação Civil), Helder Barbalho (Portos), Eduardo Braga (Minas e Energia), Marcelo Castro (Saúde) e Celso Pansera (Ciência e Tecnologia) - decidiram não deixar seus cargos.
A decisão teria sido tomada na “casa de Renan (Calheiros)”, na note de anteontem. Kátia afirmou, ainda, que ela e os correligionários se licenciarão da legenda em “respeito à decisão aprovada”. Porém, o senador Romero Jucá fez questão de desmentir o acordo entre os ministros. “Não chegou nenhuma comunicação para o partido”, destacou. Por sua vez, Renan também rejeitou a hipótese de patrocinar a licença dos ministros.
Já o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), afirmou que, no município, o apoio à presidente Dilma continua.