Assunto do dia no condomínio foi notícia de que delator da Lava Jato tem residência no local
Foto: Edmar Melo/JC Imagem
Marcela Balbino
JC Online
Um clube de campo em Aldeia, em Camaragibe, que abriga condomínios de alto padrão, às margens da PE-27, era onde residia o empresário Carlos Alexandre de Souza Rocha, apelidado de Ceará, ajudante do doleiro Alberto Youssef e delator na Lava Jato. Olhando de fora, o condomínio Alvorada parecia seguir na aparente tranquilidade, ontem, não fosse a notícia de que o proprietário de um dos imóveis está envolvido no esquema milionário de corrupção na Petrobras. Na portaria, o segurança informou à reportagem que Ceará não morava mais ali, mas que a irmã dele, Maria Amália, sim. Ela, no entanto, havia saído.

Na delação premiada, Ceará conta que o Recife entrou na rota de Youssef. Em 2013, o doleiro veio à capital pernambucana, em um avião particular, com duas malas cheias de dinheiro. O amigo do doleiro explica, inclusive, como calculava as quantias a serem distribuídas. "Quando o declarante transportava dinheiro em notas de R$ 50, conseguia levar R$ 150 mil, e quando transportava dinheiro em notas de R$ 100, conseguia levar R$ 300 mil", disse ele, em depoimento.
A rota do empresário incluiu mais de oito cidades do País: Brasília, Recife, Maceió, Rio de Janeiro, Salvador, Curitiba, Florianópolis e Itapema (SC). Boa parte das viagens partiram do Recife. As viagens aconteceram entre 2013 e 2014. Ceará distribuiu milhões de reais para políticos. Ele acabou preso em 2014. Ceará relatou como procedeu a distribuição de dinheiro a políticos, como o ex-deputado Pedro Corrêa (preso na PF de Curitiba) e citou pagamento ao ex-presidente do PSDB Sérgio Guerra (morto em 2014).
Em uma das passagens, ele cita que levou R$ 130 mil a Pedro Corrêa, na residência dele, na Avenida Boa Viagem, Zona Sul. O dinheiro, diz ele, seria usado para custear a campanha da filha do ex-deputado. Corrêa é acusado de ter sido favorecido no esquema de corrupção da Petrobras. Ele nega. Segundo a denúncia, o ex-parlamentar recebeu dinheiro desviado dos contratos da estatal quando era presidente do PP, e distribuiu os valores a membros do partido.
O ex-presidente do PSDB Sérgio Guerra também é citado por Ceará. Ele confirmou à Procuradoria-Geral da República que Youssef destinou R$ 10 milhões para o tucano, então líder do PSDB no Congresso, "abafar" a CPI da Petrobras, em 2009 - às vésperas do ano das eleições presidenciais em que Dilma Rousseff (PT) chegou ao poder. O partido nega ter recebido valores ilícitos.
Ceará conta ainda que uma das quantias mais altas destinadas pelo doleiro - R$ 1 milhão - era endereçada ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB). Os senadores Fernando Collor e Aécio Neves também estão na lista do novo delator.