DRAMA AMPLIFICADO - ALESSANDRA DUARTE - O GLOBO

Antônio Assis
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Rosa Ângela Gomes Marinho, de 17 anos, mãe de Lara Safira, que nasceu com microcefalia - Domingos Peixoto / Agência O Globo

Em Pernambuco, epicentro da microcefalia, redes de saúde falham em diagnóstico e reabilitação de bebês

ITAPISSUMA (PE) — Rosa Ângela levou dois dias para aceitar a filha que tinha acabado de nascer.

— Ela foi pro berçário, fiquei num quarto. Perguntaram depois se eu queria que ela subissepro quarto. Passou dois dias até subir, porque eu não queria. Ficar ali com ela, sabe? Nãotava preparada. Chorei, a psicóloga veio, conversou. Até eu ficar, assim, mais conformada.

Aparelho nos dentes, a menina de 17 anos viu o rosto da microcefalia na sua primeira filha. Lara Safira nasceu há três meses com crânio de 28 cm e pegou a família de surpresa: a doença não tinha sido diagnosticada até então, apesar de a mãe ter feito pré-natal e três ultrassonografias durante a gravidez. Rosa Ângela mora com o marido e a filha do casal em Itapissuma, município da Região Metropolitana de Recife, a cerca de 45 quilômetros da capital do estado que mais tem registrado casos de microcefalia no Brasil.


O quadro de tragédia na Saúde que se formou com a revelação de que grávidas que contraíram o vírus zika tiveram, por causa do vírus, bebês com microcefalia — vista desde o fim de 2015 em centenas de bebês no país — é uma soma de tragédias familiares. Agravada por uma demora no diagnóstico da criança. O atraso na confirmação de suspeita de microcefalia acaba adiando o início do tratamento do bebê. O atendimento de reabilitação também precisa ser ampliado para dar conta do aumento de casos da doença: em Pernambuco, o epicentro brasileiro dos casos, só três locais estão registrados até agora na Secretaria estadual de Saúde para oferecer reabilitação a crianças com microcefalia; e uma unidade municipal de Saúde começou a estruturar este mês esse serviço. Caracterizada por fazer com que o bebê tenha crânio menor que o normal, e retardo no desenvolvimento neurológico e motor, a microcefalia e sua relação com o vírus zika — transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, o mesmo da dengue e da chicungunha — fizeram a Organização Mundial de Saúde (OMS) emitir na última semana alerta mundial sobre a zika.

Lara começou a fazer fisioterapia quando tinha 2 meses. A mãe se trata com psicóloga até hoje.

Rosa Ângela Gomes Marinho, de 17 anos, mãe de Lara Safira, que nasceu com microcefalia - Domingos Peixoto / Agência O Globo

Em Pernambuco, epicentro da microcefalia, redes de saúde falham em diagnóstico e reabilitação de bebês.

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