‘Financiamento público elevaria número de mulheres na política’

Antônio Assis
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Blog do Kennedy

ISABELA HORTA 
BRASÍLIA

Flávia Biroli, professora do Instituto de Ciência Política da UnB (Universidade de Brasília), diz que o financiamento público de campanhas políticas aumentaria o “o número de mulheres candidatas e eleitas”. Segunda ela, estabelecer cotas no Congresso seria “um passo importante” para estimular a igualdade de gênero no Brasil.

Biroli afirma que temas ligados aos direitos das mulheres, como a demanda por creches ou projetos que flexibilizam as condições para realização do aborto, não ganham relevância na agenda do Legislativo. Uma maior presença feminina no Parlamento daria força a esses temas.

Segundo Biroli, os partidos políticos apostam menos nas candidaturas das mulheres. Ela defende alterações no sistema de financiamento de campanhas eleitorais para garantir maior presença feminina na política. “O financiamento público de campanhas, que reduz a interferência das empresas e a necessidade de contar com posições políticas preexistentes, (…) também é importante para aumentar o número de mulheres candidatas e eleitas”, avalia.

“Do modo como a política é realizada, os direitos das mulheres são definidos por uma maioria de homens. (…) A autonomia individual e a autonomia coletiva das mulheres são comprometidas: elas vivem sob regras que são definidas na sua ausência ou quase ausência, suas lutas têm maior dificuldade de ganhar voz e peso, a própria definição política dos seus interesses é comprometida.”

Biroli afirma que é “simbólica” a presença de uma mulher na Presidência da República, mas critica a condução de políticas públicas voltadas para a população feminina no governo Dilma Rousseff.

“A agenda das mulheres tem sido moeda de troca para garantir apoio dos grupos religiosos, em especial da bancada evangélica na Câmara. Recentemente, a fusão entre as secretarias de Políticas para Mulheres, para Igualdade Racial e de Direitos Humanos foi um passo atrás na atribuição política de relevância a essas agendas”, diz.

Perguntada sobre a legalização do aborto, Biroli afirma que o assunto é “uma questão de direito individual e de saúde pública”. Na avaliação da professora da UnB, “a recusa ao direito ao aborto compromete a cidadania das mulheres e sua integridade física”. Segundo ela, o tema não avança no Brasil devido aos obstáculos criados pela atuação das igrejas católica e neopentecostais.

Autora do livro “Feminismo na Política”, ao lado do professor Luis Felipe Miguel, Biroli diz que a falta de creches e escolas públicas integrais é “um elemento central” na desigualdade salarial por gênero. No Brasil, a diferença da remuneração entre homens e mulheres em 2013 foi de 25,8%. O país ocupa o 124° lugar em um ranking de igualdade salarial organizado pelo Fórum Econômico Mundial com 142 países.

“A igualdade [salarial] depende de mudanças estruturais, capazes de colocar o cuidado e a vida cotidiana no centro das preocupações, deslocando o imperativo do lucro e a ideia de que o que rege a vida e o acesso a dignidade são forças impessoais de mercado”, diz.

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