Blog do Kennedy
ISABELA HORTA
BRASÍLIA
Flávia Biroli, professora do Instituto de Ciência Política da UnB (Universidade de Brasília), diz que o financiamento público de campanhas políticas aumentaria o “o número de mulheres candidatas e eleitas”. Segunda ela, estabelecer cotas no Congresso seria “um passo importante” para estimular a igualdade de gênero no Brasil.
Biroli afirma que temas ligados aos direitos das mulheres, como a demanda por creches ou projetos que flexibilizam as condições para realização do aborto, não ganham relevância na agenda do Legislativo. Uma maior presença feminina no Parlamento daria força a esses temas.

“Do modo como a política é realizada, os direitos das mulheres são definidos por uma maioria de homens. (…) A autonomia individual e a autonomia coletiva das mulheres são comprometidas: elas vivem sob regras que são definidas na sua ausência ou quase ausência, suas lutas têm maior dificuldade de ganhar voz e peso, a própria definição política dos seus interesses é comprometida.”
Biroli afirma que é “simbólica” a presença de uma mulher na Presidência da República, mas critica a condução de políticas públicas voltadas para a população feminina no governo Dilma Rousseff.
“A agenda das mulheres tem sido moeda de troca para garantir apoio dos grupos religiosos, em especial da bancada evangélica na Câmara. Recentemente, a fusão entre as secretarias de Políticas para Mulheres, para Igualdade Racial e de Direitos Humanos foi um passo atrás na atribuição política de relevância a essas agendas”, diz.
Perguntada sobre a legalização do aborto, Biroli afirma que o assunto é “uma questão de direito individual e de saúde pública”. Na avaliação da professora da UnB, “a recusa ao direito ao aborto compromete a cidadania das mulheres e sua integridade física”. Segundo ela, o tema não avança no Brasil devido aos obstáculos criados pela atuação das igrejas católica e neopentecostais.
Autora do livro “Feminismo na Política”, ao lado do professor Luis Felipe Miguel, Biroli diz que a falta de creches e escolas públicas integrais é “um elemento central” na desigualdade salarial por gênero. No Brasil, a diferença da remuneração entre homens e mulheres em 2013 foi de 25,8%. O país ocupa o 124° lugar em um ranking de igualdade salarial organizado pelo Fórum Econômico Mundial com 142 países.
“A igualdade [salarial] depende de mudanças estruturais, capazes de colocar o cuidado e a vida cotidiana no centro das preocupações, deslocando o imperativo do lucro e a ideia de que o que rege a vida e o acesso a dignidade são forças impessoais de mercado”, diz.