Fazendo o caminho de volta

Antônio Assis
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Folha-PE

Filho do município de Joaquim Nabuco, na Zona da Mata Sul de Pernambuco, Enildo José da Silva, 49 anos, iniciou a vida profissional na usina Pumaty, nesta mesma cidade. Quando o negócio entrou em dificuldades, em 2013, ele rumou para o Complexo Industrial Portuário de Suape, o então Eldorado dos empregos no Estado. Depois de um ano numa prestadora de serviço da Refinaria Abreu e Lima, os escândalos de corrupção e a desmobilização de obras ceifaram o posto conquistado. O caminho de volta para casa poderia ser amargo, não fossem as oportunidades no setor sucroalcooleiro. Em um período de queda do emprego formal, as vagas ligadas à cultura canavieira estão invertendo o êxodo de trabalhadores do interior para Suape para um movimento de retorno à zona rural. “É muito bom ter um trabalho de qualidade na minha cidade”, diz José da Silva, que agora é soldador na recém-reativada usina Pumaty. Em alguns casos, a experiência adquirida em Suape, ajudou a uma recolocação desses trabalhadores em postos de trabalho mais qualificados.

Enquanto a Construção Civil fechou 2,3 mil postos de trabalho em agosto deste ano ante ao mês anterior, segundo o Cadastro Geral de Emprego e Desemprego (Caged), o segmento Agropecuário, onde se inserem as vagas canavieiras, apresentou saldo positivo, com um crescimento de 3,24%. Somente as usinas Pumaty e Cruangi, reativadas recentemente por um modelo de cooperativismo, geraram cada uma cerca de cinco mil empregos diretos.

“Considerando os dados, é possível afirmar a relevância dos empregos no segmento para o contingente geral do Estado, tendo em vista que as atividades com carteira assinada no setor agropecuário se concentram principalmente nas usinas, nos canaviais e na agricultura irrigada do São Francisco”, explica o economista e diretor da Agência Condepe/Fidem, Rodolfo Guimarães. Com o período de safra iniciando em meados de setembro, o pico de vagas ainda não foi retratado pelo último levantamento do Caged. “Mesmo assim, já é possível perceber a relevância desse cenário no aproveitamento da mão de obra local”, ratifica. Não é à toa que o pacote de medidas para combater a crise, anunciado pelo governador Paulo Câmara no dia 21 passado, contempla o setor, aumentando o ICMS para gasolina, de 27% para 29%, e reduzindo o do álcool de 25% para 23%.

O economista Jorge Jatobá ressalta o movimento de reentrada dos ex-suapeiros nas atividades canavieiras como um efeito aguardado. “Era esperado uma grande desmobilização da mão de obra na construção civil, visto que apenas parte desse contingente poderia ser aproveitado na fase operacional dos empreendimentos, que exigem maior qualificação. É natural que a produção sucroalcooleira absorva parte considerável desse volume, porque é um setor tradicional no Estado, cuja alta demanda de pessoal na fase da moagem gera muitas vagas formais para os trabalhadores”, analisa.

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