AMUPE Patriota aponta dificuldades na maioria das cidades
Foto: Edmar Melo/JC Imagem
Paulo Veras
JC Online
O 13º salário foi instituído por lei no Brasil em 1962, mas por causa da crise econômica e da queda de arrecadação, pelo menos sete cidades da Região Metropolitana do Recife (RMR) já admitem que terão dificuldades em arcar com a folha extra dos seus servidores neste final de ano, segundo levantamento do JC. Juntos, esses municípios possuem mais de 18 mil funcionários e folhas de pagamento que somam mais de R$ 38 milhões mensais. Os locais que admitiram o problema são Abreu e Lima, Camaragibe, Itamaracá, Itapissuma, Moreno, Paulista e São Lourenço. A sinalização é que o cenário é similar no restante do Estado.

A preocupação com o final de ano se estende também para o início de 2016, quando o salário mínimo subirá para R$ 865,50. Para Gino Albanez (PSB), prefeito de São Lourenço da Mata, a estagnação da economia vai fazer com que mesmo a arrecadação de novembro e dezembro, que sempre cresce por causa do Natal, seja uma “calamidade” para as prefeituras. “Os prefeitos do Nordeste se tornarão em breve chefes de departamento de pessoal. Arrecada, paga o pessoal e bate o ponto. Não faz mais nada. Nós vamos ter que pegar a chave da cidade e entregar”, critica. Na semana passada, ele autorizou uma série de cortes, inclusive no próprio salário, para que o município consiga atravessar os próximos meses sem penalizar os 2,8 mil funcionários.
Em Itapissuma, a situação é ainda mais grave. Até a última sexta-feira (16), os 810 servidores públicos ainda não haviam recebido o salário de setembro. “Nós vamos ter muitas dificuldades. Todas. A gente só não está numa situação pior porque temos um ICMS relativamente bom, em função de algumas fábricas que chegaram”, conta o secretário de Finanças, Jean Carlos. Na cidade, os efetivos receberam metade do 13º em junho e a prefeitura estuda um pacote com cortes de despesas e revisão de contratos para tentar fechar o ano. “A gente não tem como levantar dinheiro. Só se cair do céu”, diz Jean.
Mesmo cidades que garantem o pagamento do 13º estão no aperto para manter a folha. É o caso de Araçoiaba, onde o prefeito Joamy Alves priorizou os salários dos 847 servidores como uma alternativa para “evitar um colapso” no município, que tem na prefeitura a sua maior fonte empregadora. Em compensação, o gestor abriu mão de realizar serviços prometidos à população, como a construção de galerias fluviais. De acordo com a própria prefeitura, o esgoto corre a céu aberto na maioria das ruas do município.
SITUAÇÃO É AINDA PIOR NO SERTÃO E AGRESTE
Para o presidente da Associação Municipalista de Pernambuco (Amupe), o prefeito José Patriota (PSB), de Afogados da Ingazeira, a situação é ainda mais difícil em cidades menores, que dependem mais dos recursos federais, e municípios do Sertão e do Agreste, onde os prefeitos ainda enfrentam o impacto da seca. “A esmagadora maioria dos municípios pernambucanos está com dificuldade para pagar o 13º. Escuto reclamação toda hora dos colegas prefeitos. Quem pôde adiantar metade do pagamento até o meio do ano ainda está numa situação melhor”, afirma Patriota.
O cenário é mais favorável em cidades maiores, como o Recife, Jaboatão dos Guararapes e Olinda, que prometem pagar o 13º. Além da RMR, o JC também procurou Petrolina, no Sertão, Caruaru e Garanhuns, no Agreste. As três gestões garantiram que pagarão o abono. Das 17 prefeituras contactadas pela reportagem, apenas Igarassu não respondeu.
Para ter a noção exata do problema, a Amupe começou a realizar um levantamento com todos os 180 municípios pernambucanos para medir a dificuldade com o pagamento do abono natalino. A expectativa é que o balanço seja concluído já nesta semana e apresentado na próxima quinta-feira, durante o Congresso dos Municípios do Nordeste, que ocorre no Recife.
A entidade já sabe, por exemplo, que os principais motivos para o aperto são a queda na arrecadação a partir do FPM e a inconstância dos repasses federais para programas das prefeituras. (P.V.)