Pernambuco é o campeão nordestino de discriminação nos serviços de saúde

Antônio Assis
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Moradores da ocupação Esperança I, no Espinheiro, reclamam a falta de atendimento na Unidade de Saúde da Família próxima à residência deles.

Alice de Souza
Diário de Pernambuco

Nilton Oliveira, 18 anos, não tem semelhança com o estereótipo de garoto dessa idade. Não frequenta festas nem está se preparando para prestar vestibular. O atual sonho dele tem outra proporção. Sem a visão do olho esquerdo há quatro anos, depois de um acidente, só precisa de uma assinatura médica para validar o laudo e receber a carteirinha de livre acesso ao transporte público. No posto de saúde, foi chamado de “cego doido” e saiu sem a rubrica tão desejada.

Situações como a enfrentada por ele são mais comuns do que se imagina. Um gargalo entre a legislação que prega um serviço universal e a realidade reflexo dos preconceitos arraigados na sociedade brasileira. Em Pernambuco, mais de 769 mil pessoas têm relatos semelhantes ao de Nilton, mostrou a Pesquisa Nacional de Saúde, encomendada pelo Ministério da Saúde. Os números empurram o estado para o 10º lugar em casos de discriminação na saúde. Se considerado só o Nordeste, Pernambuco sobe para a liderança.

O adolescente Nilton é morador da ocupação “Esperança I”, no nobre bairro do Espinheiro, Zona Norte do Recife. Entre os edifícios modernos e luxuosos da vizinhança, ele divide um casa abandonada com a esposa e outras 31 famílias. A todos eles, o direito de ser atendido no posto de Saúde União das Vilas, a duas quadras do imóvel, foi negado seguidas vezes.

“Eles disseram que a gente faltava demais e, por isso, não iríamos ser mais atendidos. Só que isso é desculpa”, lamentou Nilton, que vive com o salário de aposentado e gasta contados R$ 4,90 para ir à igreja de ônibus.

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