Cifrões desumanos - Jaílson da Paz

Antônio Assis
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Reclamações de deficiências na rede pública de saúde vêm de décadas. Mesmo em tempos ditos de vacas gordas na economia, as queixas estavam lá. Leitos hospitalares, médicos e remédios insuficientes para a necessidade da população.

Do que sempre se queixou, está agora sem batom, sem pó e sem corretivo. A face está limpa. E a sua exposição se reveste de filas, de romarias em busca de unidades com médicos de plantão, de prazos elastecidos para marcação de consultas e da multiplicação de denúncias.

Desconheço uma semana dos últimos meses sem que tenha chegado, por telefone ou por redes sociais, cinco, seis…dez queixas. Lamentam-se pessoas da capital e gente do interior, que cansadas dos “nãos” em suas cidades, procuram esperança no Recife, agarrando-se a ônibus e vans desprovidos de conforto.

“Fazer o quê, meu filho”, ouvi tantas vezes como justificativa para o sofrimento. Ficando no interior, adoece-se e morre-se da pior forma: sem direito a tentar a cura. Vindo à capital, pode a doença se agravar ou acarretar a morte, mas a esperança de manter a vida permanece quando o paciente bate nas portas das unidades de saúde.

Lamentável, nesse momento, é perceber essas portas, já não muitas, ficarem entreabertas ou se fecharem com o corte ou a falta de verbas no Hospital Oswaldo Cruz e no Hospital das Clínicas. A cada consulta desmarcada e médico não encontrado fica um pedaço de gente. É desumana a lógica dos números.

Foto: Ryo FUKAsawa/Flickr

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