Para a AblogPE, atentado ao blogueiro Ed Soares tem fortes evidências de pistolagem e motivação política
Já recebeu alta do Hospital da Restauração o blogueiro pernambucano Edmilson Soares de Oliveira, de 37 anos, vítima na noite do último dia 17 de junho de um atentado à bala, quando se encontrava na porta de sua residência na cidade de Barreiros, Mata Sul do Estado. O blogueiro Ed Soares, como é conhecido, veicula matérias que refletem um trabalho de fiscalização do poder público, denunciando precariedades nos serviços públicos ofertados à população e fazendo críticas constantes às ações da gestão local.

As publicações de Ed Soares em seu blog já haviam causado reações como perseguição, campanhas para desqualificá-lo e ameaças pela Internet. Uma postagem datada do final de março deste ano contém um relato de Ed sobre ligações telefônicas e mensagens SMS anônimas que perturbavam a ele e à sua família. O blogueiro, porém, não teria cedido ao clima ameaçador e continuou atuante. Recentemente, seu blog divulgava a falta de transporte escolar para crianças da zona rural de Barreiros, ao tempo em que questionava um leilão de automóveis pertencentes à prefeitura e chamava atenção para a crescente contratação de serviços de locação de carros pela administração municipal.
Flávio Sorolla, titular da Delegacia de Barreiros, em contato por telefone, declarou à Associação dos Blogueiros que o Inquérito Policial foi aberto sob o número 109/2015 e tem sido encarado como tentativa de homicídio. “As investigações estão correndo e vamos colher os depoimentos da vítima e da esposa dentro dos 30 dias previstos para apuração. O caso tem sido tratado como prioridade, apesar de nossa grande demanda aqui”, declarou o Delegado.
Jornais e TVs ignoram o atentado

A exceção sobre o atentado a Ed Soares, porém, fica por conta de uma única matéria publicada no site do JC. O texto omite o teor do trabalho de Ed em seu blog e, assim, não se tem qualquer referência que permita ao leitor conceber a possível motivação política do crime. A perspectiva de “crime comum” ainda é corroborada, na matéria, pelo destaque a um vídeo do deputado federal Daniel Coelho (PSDB), o qual exibe sua fala de um minuto feita no plenário da Câmara dos Deputados em que se apresenta o caso como consequência da criminalidade que assola a região.
Até mesmo os programas policialescos produzidos pelas emissoras locais, que fazem da violência sua razão de existência, demonstraram uma estranha apatia frente à tentativa de assassinato de Ed Soares. Nos trechos dos telejornais disponibilizados pela Internet, apenas no Bronca Pesada, apresentado por Joslei Cardinot, foi encontrada uma menção ao caso. O famoso apresentador, tão experiente em explorar crimes com potencial repercussão, dá a notícia com uma frieza atípica, sem mudar o tom da voz. Em cerca de vinte segundos, diz que o blogueiro sofreu um atentado em frente à sua casa e está no Hospital da Restauração. Não há matéria sobre o caso, somente a usual sonoplastia de tiros e sons de veículos em arrancada.
O comportamento dos veículos de comunicação citados não condiz com o tratamento que merece o fato. Sequer há demonstração do interesse das editorias em repercutir na opinião pública a ocorrência do atentado, ato que se apresenta como a quase consumação do extremo a que podem chegar as várias ameaças dirigidas a comunicadoras e comunicadores: a execução de pessoas para que não falem sobre o que devem, e têm o direito, de falar. Ed Soares difunde em seu blog as raras informações sobre os fatos sociais e políticos das cidades que estão fora, mas não tão distantes, dos grandes centros urbanos brasileiros. Algo que tende a se tornar cada vez mais escasso frente à incessante concentração da propriedade dos meios de comunicação do País em poucas e grandes empresas. Diante de uma violação tão grave de direitos, à expressão e à vida, a continuidade da omissão da grande mídia pernambucana frente ao caso só tende a apurar a impressão de hipocrisia nos seus discursos quando provocada a se pronunciar sobre direitos e democracia. A liberdade da imprensa pernambucana é, sim, limitada. Mas o é pelo próprio condicionamento que lhe impõem seus proprietários, comprometidos com os fatos que convêm aos seus interesses econômicos e políticos.