Carolina Leão
Folha-PE
Famílias separadas, comunidades partidas,histórias de vida destruídas. No País da Copa, o futebol está na berlinda como o espetáculo de entretenimento que mais ônus trará à população de baixa renda. “Isso pode estar sendo bom para o Recife, não para o Coque”, resume o líder comunitário Rildo Fernandes. De forma objetiva, ele arremata, com simplicidade, o que vem acontecendo em comunidades como a do Coque, no Recife, onde ainda está sendo construído, por conta do evento, o Terminal Integrado de Joana Bezerra, que faz parte do corredor Norte-Sul do BRT. Além do bairro, o loteamento São Francisco, em Camaragibe, também teve o ano marcado pela tristeza de seus moradores. Ambos, estão localizados em Zona Especias de Interese Social (ZEIS), que deveriam ter seu direito à moradia garantido. Mas, as obras não ficaram pronta em tempo hábil.

Para Cláudio Braga, do projeto Habitat, as obras da Copa descaracterizaram as comunidades e a rotina de seus moradores. “Isso demonstra, claramente, a violação de direitos de moradia e transporte”, coloca. Cerca de dois mil despejos já foram contabilizados no loteamento de Camaragibe. O advogado Alexandre Pacheco, do Centro DomHélder Câmara (Cendhc), diz que foi um verdadeiro massacre. Para ele, a falta de transparência sobre os projetos a serem implantados nos locais tem criado um verdadeiro exército de sem tetos. “Nada foi discutido com as comunidades. Além disso, não houve plano de realocamento, nem está sendo cumprido o que a legislação pede, que é uma indenização prévia, justa e de acordo com o valor de mercado. Isso fere todas as garantias constitucionais”, destaca.
São histórias como a de Vânia Pereira e de Vera Silva, que viram suas vidas reviradas da noite para o dia, com a ordem de despejo que receberam do Governo do Estado para a construção do Terminal Cosme e Damião, em Camaragibe “Muitas famílias aceitaram para não ter briga, porque fomos ameaçados pela força policial. Mas, até agora, muita gente não recebeu sua indenização e não há previsão de quando ela sairá”, relata. “Quando chegou o resultado das indenizações ficamos muito tristes. Não foi por aquilo que passamos a vida toda trabalhando. O loteamento São Francisco é uma comunidade unida, a maioria de idosos, gente que vive há 50 anos no local. Nos sentimos amedrontados”, pontua Vera, faxineira, com dois filhos, que vive de aluguel depois de ter sua casa desapropriada.
Para Rud Rafael, assistente social do Comitê Popular da Copa, existem diversos problemas nanegociação entre Governo e comunidade. Para ele, o Estado teve tempo suficiente para pensar em reassentamentos ou habitacionais. “O Governo diz que isso é um mal necessário. Contestamos essa informação. E lutamos para que as comunidades recebam valores mais justos, porque a discrepância é enorme”, explica. A reportagem da Folha de Pernambuco procurou a Secretaria das Cidades para falar sobre o assunto, mas foi informada que a Procuradoria Geral do Estado é que estava à frente do processo. Durante três dias, a Folha tentou entrar em contato com a assessoria da PGE, sem êxito.