Quem quer ser advogado? - Renato Nalini

Antônio Assis
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“Conquistar o diploma de bacharel em Direito é mais fácil do que ser dentista, farmacêutico ou agrimensor. Isso, porém, acontece porque nada é mais difícil do que aprender o Direito… O paradoxo é apenas aparente. Para que o bacharel deixasse a faculdade habilitado a advogar ou a julgar, seria necessário que para ali entrasse muito jovem e saísse encanecido… Durante os cinco anos do curso acadêmico, o futuro advogado ou magistrado somente adquire – o que não é pouco – pela convivência dos mestres e por influência das tradições da casa e da vida universitária, o “espírito de jurista”, que o dominará durante toda a existência, imprimindo-lhe no coração e na consciência o amor à lei e à justiça. Da Ciência Jurídica, porém, o melhor estudante apenas levará para a vida prática algumas noções genéricas e um pouco de método, para estudá-la aqui fora. Alguns, realmente, estudam”.

Esse texto não é meu. Foi escrito pelo legendário Ministro Manoel da Costa Manso, ao apresentar o livro “Da Tentativa”, escrito pelo Juiz de Direito de Campinas Vasco Joaquim Smith de Vasconcellos, em 1932. Herdei o livro da maravilhosa biblioteca do Desembargador Young da Costa Manso, que foi Presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, assim como seu pai. E que judicou em Jundiaí na década de quarenta do século passado.

Mas como são atuais as palavras do ministro Costa Manso, que foi Juiz em Casa Branca e de lá guindado ao Tribunal de Justiça de São Paulo, que presidiu e depois chegou ao Supremo Tribunal Federal. O Curso de Direito é mera formalidade. Quem realmente quer ser advogado precisa ser um insatisfeito. Não se conformar com a matéria de classe, mas se aprofundar em pesquisa individual, servir-se do professor para elucidar dúvidas que encontrar no estudo que é um exercício solitário. Quem se satisfizer com as aulas será sempre alguém limitado. Pois a plenitude do conhecimento nunca esteve tão disponível. O Google elucida todas as dúvidas. Mas não ensina a pensar. Isso é missão de cada um. E não se aprende na Faculdade. 

O Brasil começa a enxergar e logo mais exigirá um outro bacharel em ciências jurídicas: alguém provido de aptidão para conciliar, para pacificar, para harmonizar. Não para litigar! Quem se aperceber disso terá futuro. Os outros, o tempo dirá…  

* JOSÉ RENATO NALINI é presidente do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo para o biênio 2014/2015. E-mail: jrenatonalini@uol.com.br.

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