Quatro mitos sobre pesquisa política - Francisco Ferraz

Antônio Assis
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A pesquisa política ainda enfrenta muitos preconceitos que restringem o seu uso nas campanhas eleitorais e reduzem em muito sua utilidade. Os políticos brasileiros adotaram a pesquisa. Mesmo cidades pequenas fazem ginásticas para poder contar com, pelo menos uma pesquisa. 
Isto é bom? Sim, é bom, mas também traz novos problemas.
Os três principais problemas são:
• A falta de conhecimento para poder tirar de uma pesquisa aquelas informações novas que só ela pode produzir;
• As concessões metodológicas feitas para reduzir os custos da pesquisa aos recursos disponíveis;
• Os mitos sobre pesquisa que renascem sempre que os resultados são desfavoráveis.
Falta de conhecimento
As pesquisas foram finalmente aceitas e hoje são o objeto de desejo de todas as campanhas. Em princípio é um progresso, mas é preciso ir além. Candidatos, coordenadores de campanha e dirigentes partidários precisam adquirir conhecimentos mais avançados sobre pesquisa.
Se não houver este upgrade de conhecimento, um dos itens mais onerosos da campanha (pesquisas) terá pouca utilidade estratégica na disputa.
Quem tem experiência prática de pesquisa em campanha eleitoral sabe que, muitas vezes, a decisão entre pesquisa quantitativa e pesquisa qualitativa é tomada em função do custo, e não em função do tipo de informação que cada uma pode produzir.
Além disso, todos querem pesquisa, mas na prática o que buscam saber é a intenção de voto. Sem dúvida a intenção de voto é importante, mas numa pesquisa de questionário pequeno ( em torno de12 perguntas) intenção de voto se mede com 4 perguntas. Sobram ainda 8 para buscar conhecer o mais necessário: as razões das preferências, das rejeições e indecisões, os sentimentos do eleitor, quais os fatores (pessoas, partidos, lideranças) que influenciam a sua decisão.

A regra básica é uma: busca-se saber, com a pesquisa, aquilo que não sabemos. O que já sabemos por outras formas de informação, não pode tomar nem o tempo nem o dinheiro da campanha, dois recursos sempre escassos. Parece óbvio, mas não é.
Concessões metodológicas
Para quem não tem um conhecimento minimamente satisfatório do que é a pesquisa política, é fácil fazer concessões. As mais comuns são aquelas que têm repercussão direta sobre o custo: Um instituto que se dispõe a fazer concessões; amostras “facilitadas” (isto é, escolhas de entrevistados em função da maior acessibilidade; com amostras muito reduzidas, o que implica em elevadas margens de erro; entrevistadores sem experiência); e com questionários banais.
Mitos que cercam a pesquisa politica
Certas afirmações se constituem em verdadeiros mitos nutridos pela ignorância, e que convergem para a conclusão de que a pesquisa política é dispensável. Esses mitos ressurgem sempre que os resultados das pesquisas (nossas ou de outros) são desfavoráveis.
1. “Eu conheço os eleitores não preciso de pesquisa”
Com exceção de eleições legislativas municipais, em cidades com eleitorado pequeno, um candidato conhece apenas uma pequena fração dos eleitores (e é conhecido por uma fração minúscula) por mais eleições que tenha disputado. Além disso, aqueles que ele conhece mais já são, em grande número, seus eleitores. Estas pessoas, portanto, não são uma amostra realista do conjunto do eleitorado. A pesquisa, com uma amostra representativa do eleitorado, extraída por procedimentos estatísticos aleatórios e probabilísticos, é a única forma de se ter conhecimento confiável sobre os eleitores. 
2. “ Não preciso de pesquisa para dizer-me o que pensar e o que fazer”
Numa democracia os governantes são eleitos para governar e também para representar os eleitores. Aliás, esta é a maneira como os eleitores encaram a eleição. Votam em quem eles acham que vão representar seus interesses, respeitar seus sentimentos e realizar no governo os seus objetivos.
É claro que o candidato não se resume a um porta voz dos seus eleitores. Como líder político, ele tem opiniões e convicções que nem sempre vão coincidir com a dos que nele votaram. Como governante, enfrentará situações complexas e urgentes que exigem presteza decisória e coragem para assumir as conseqüências das suas decisões, que muitas vezes poderão ser impopulares.
Se, entretanto, sua candidatura não estiver alicerçada numa sintonia com os sentimentos e prioridades dos eleitores dificilmente será eleito.A pesquisa é o melhor instrumento para saber o que os eleitores pensam e querem, informação indispensável para estabelecer aquela sintonia da qual depende a viabilidade eleitoral.
3. “Pesquisa é muito cara. Prefiro aplicar este dinheiro em outras áreas”
De todos os “mitos” que cercam a pesquisa política, este é o que aparece com maior freqüência. É verdade que uma pesquisa de boa qualidade profissional não é barata. Muitas vezes entretanto, o candidato não dispõe de recursos para bancar uma pesquisa. Isto não significa que se deve abandonar a busca pela informação confiável. Muito ao contrário. Nessas situações o esforço para confirmar as informações necessárias para sua campanha deverá ser ainda maior.
Informação confiável, portanto, não se limita apenas àquelas produzidas por pesquisas. Refere-se também a toda informação que circula na campanha e que, sendo objeto de discussão nas reuniões, é julgada suficientemente confiável e importante para subsidiar decisões
4. “Tudo que eu preciso saber é a minha posição na campanha”
Na realidade o candidato precisa saber muito mais do que apenas a sua posição na grade de intenção de votos. As informações como intenção de voto e rejeição são muito importantes e o candidato deve fazer tudo que estiver a seu alcance para conhecê-las.
Além de orientarem a comunicação do candidato, são importantes sobretudo para consolidar apoios e captar recursos. Não basta entretanto, conhecer a intenção de voto e a rejeição é preciso conhecer as razões da intenção e da rejeição.
Estas informações são obtidas identificando opiniões, atitudes sentimentos e valores do eleitor; testando propostas e argumentos; comparando pontos fortes e fracos da imagem do candidato e dos adversários. Sem recursos para pesquisa o candidato deverá buscar essas informações junto aos eleitores – mas atenção, junto àqueles que não conhece, sob a forma de levantamentos e enquetes.

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