Despesas x investimentos - Francisco Ferraz

Antônio Assis
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Qualquer administração tem dois principais tipos de despesas: despesas correntes e despesas de investimento.
Despesas correntes são despesas com pessoal, serviços de manutenção, programas sociais. Despesas de investimento são, por exemplo, gastos para construir pontes, estradas, produção de energia elétrica. Esses investimentos de longo prazo, sobretudo em obras de infraestrutura, podem consagrar uma administração(grandes obras), mas não dão “capital de giro político”, isto é, popularidade no curto prazo.
Já a concentração dos gastos públicos em despesas correntes - sobretudo aqueles destinados a programas sociais que geram benefícios imediatos a segmentos expressivos do povo - em detrimento das despesas em investimentos, certamente produzem popularidade no curto prazo, mas podem acumular frustações para o futuro próximo, quando as limitações e dificuldades infraestruturais se manifestarem sob a forma de problemas nas vidas das pessoas.

O profissional da política é usualmente um prisioneiro do presente. A falta de investimentos estruturais, entretanto, acaba cobrando seu preço.
Os benefícios resultantes dos gastos com despesas correntes, quando aparecem ou mesmo quando anunciados, são recebidos com satisfação, mas têm uma curiosa propriedade: tão logo são disponibilizados, são percebidos como se sempre estivessem ali e, ao mesmo tempo, geram expectativas crescentes em relação aos que ainda estão faltando por que conduzem à convicção de que, havendo interesse político o dinheiro aparece. Assim aumentam as expectativas para novas realizações.
Com esses benefícios há mais indivíduo sem condições de consumir mais e melhor, que demandam mais e melhores condições de infraestrutura, indispensáveis para sustentar qualquer progresso na condição de vida das pessoas.
Essa situação de descompasso entre os dois tipos de despesas leva, no médio prazo, a um abalo na confiabilidade das autoridades. O modelo político que patrocina e depende deste regime de gastos torna-se refém de uma dialética autodestrutiva.
O abuso na prática do populismo sobrevive melhor numa ditadura, que numa democracia. Nesta, ele acaba desmascarado: o que era bom torna-se ruim e o que dava popularidade aparece como irresponsabilidade.
Se o populismo e sua prática de cortejar as massas fossem a receita para manter o poder, governos populistas jamais seriam derrotados.
Não se pode governar por muito tempo com a política do sim.
A força e legitimidade de um governo se medem pelo respeito do seu povo quando ele diz não.

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