Pernambuco na história do golpe

Antônio Assis
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Suetoni Souto Maior
Diário de Pernambuco


O ingrediente Pernambuco entre os acontecimentos que levaram ao golpe militar de 1964 é o tema principal do caderno especial que será lançado pelo Diario nesta segunda-feira para marcar os 50 anos do primeiro ato de um dos períodos mais duros da história recente do Brasil. A publicação é mais um passo de um amplo projeto dos Diários Associados no Nordeste, com o objetivo de traçar um retrato não apenas dos anos de chumbo, mas também do que ele implicou para as famílias dos perseguidos. Para isso, foram produzidos conteúdos exclusivos para o jornal, o diariodepernambuco.com.br, a TV Clube e a Rádio Globo.

O caderno especial do Diario procura preencher uma lacuna deixada pela cobertura jornalística nacional, que não dá ao Nordeste e a Pernambuco, em particular, a importância merecida em relação aos acontecimentos que levaram ao golpe militar. Na região existia grande efervescência política. A força das Ligas Camponesas e dos movimentos sindicais, as eleições sucessivas de lideranças de esquerda da envergadura de Miguel Arraes (que chegou a ser cotado para a Presidência da República), Pelópidas Silveira e Cid Sampaio, e as políticas sociais implantadas no estado despertaram a preocupação dos norte-americanos e das elites do país. E eles contribuíram para que o golpe fosse para a rua.
O Diario conta também como iniciativas de cunho popular e voltadas para a educação de jovens e adultos foram relegadas à categoria de subversivas, gerando um prejuízo irreparável para o estado. Iniciativas como o Movimento de Cultura Popular (MCP) e as propostas educacionais de Paulo Freire foram estancadas pela repressão. Suas iniciativas, hoje, permeiam apenas os relatos de quem viveu aquela época, a exemplo do artista plástico Abelardo da Hora, preso mais de 70 vezes durante a ditadura, e os arquivos do Departamento de Ordem Política e Social (Dops), onde parte do material não destruído foi arquivado.

O especial mostra também a violência e que as marcas geradas por elas não acabaram naquele 15 de março de 1985, quando foi empossado o primeiro presidente civil (o hoje senador José Sarney - AP) depois de 24 anos. Elas permanecem vivas até hoje, segundo os relatos dos sobreviventes e dos familiares das vítimas. Memórias e histórias que estão sendo revistas pelas comissões da verdade nacional e local. É o que o pernambucano José Paulo Cavalcanti, membro do colegiado nacional, chama de necessidade de ouvir a parte vencida no confronto entre a democracia e a força.

Ao todo, o caderno terá 12 páginas e é o resultado de um trabalho que mobilizou repórteres de várias editorias e as editorias de arte e fotografia em um intenso trabalho para resgatar e contar o que mudou no Brasil ao longo desses 50 anos. Para isso, foram ouvidos personagens, consultados arquivos e analisados documentos em busca de fatos inéditos para serem apresentados ao leitor do Diario.

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