Lixo não é problema só do governo. É de todos

Antônio Assis
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Ciara Carvalho e Marina Barbosa
JC Online

Foto: Diego Nigro/JC Imagem

É mais do que absurdo e indignação. É desperdício e inoperância. A foto do menino de Saramandaia, quase engolido pela sujeira do canal, carrega um pouco de todos nós (ver galeria de imagens no final da matéria). É o nosso lixo de cada dia que está ali, espiando os pecados de uma cidade que não aprendeu a tratar seus restos com consciência e cidadania. A confissão de culpa flagrada em cada detalhe. Perpetuada nas milhares de garrafas PET, sacos plásticos, latinhas de refrigerante, na trivial embalagem de margarina. Quase tudo reaproveitável. Não deveria, nem precisava estar lá. De onde veio esse mar de entulhos que, dragado pela maré baixa do Canal do Arruda, sufoca e corrói a infância dos meninos de Saramandaia? Como ele foi parar ali na foto que correu o mundo?
Basta ver. É lixo vindo das nossas cozinhas, da rotina diária de todas as casas. Lixo doméstico. Produzido por uma metrópole que ainda não incorporou, sequer descobriu, a coleta seletiva como um hábito saudável e urgente. A população até sabe da importância de reciclar, mas o costume de separar garrafas, vidro, papel é muito mais discurso do que prática. Uma pesquisa inédita do Centro de Apoio Operacional às Promotorias de Meio Ambiente do Ministério Público de Pernambuco, realizada com moradores do Grande Recife, vai direto ao ponto. Feito no final do ano passado e recém-concluído, o levantamento não deixa dúvidas: todos são a favor da reciclagem. Mas poucos, pouquíssimos, contribuem com ela. Os números evidenciam a contradição do dia a dia. Cerca de 95% dos moradores ouvidos consideram a coleta seletiva importante. Mas apenas 10% separam diariamente o lixo, condição fundamental para a reciclagem.

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