Eduardo (D) entregou os cargos que o PSB ocupa no governo Dilma na semana passada
Alexandre Gondim/JC Imagem
Bruna Serra
JC Online
Quando discursou, em setembro de 2009, durante solenidade no Estaleiro Atlântico Sul, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva não imaginava que seu “achado de Deus”, como chamou naquele dia o governador Eduardo Campos (PSB), se tornaria mais um a tentar abocanhar a cadeira de presidente da República, tese que ganhou força na semana passada, após o rompimento do PSB com o governo federal.
Na última semana, o Partido Socialista Brasileiro deu o primeiro passo para consolidar suas intenções no cenário nacional. Apesar de aparentar uma saída pacífica da administração federal, o rompimento é o prenúncio de um jogo político que terá, nos próximos meses, como palco principal o Congresso Nacional.
A entrega dos cargos foi o estopim de uma longa novela de divergências entre Eduardo e o governo federal. Desde que colocou o prefeito do Recife, Geraldo Julio (PSB), na cadeira ocupada pelo PT por 12 anos, o governador começou a sentir-se mais à vontade para criticar as escolhas do Planalto, especialmente a capacidade de diálogo da presidente Dilma Rousseff.
A largada aconteceu com o discurso que adotou sobre a necessidade de se estabelecer um novo Pacto Federativo. Eduardo lançou à cena prefeitos e governadores de todo o Brasil, que reclamam do repasse do Fundo de Participação de Estados (FPE) e do congênere voltado aos municípios. Para reforçar seu discurso, o socialista chegou a lançar o Fundo Estadual de Apoio ao Desenvolvimento Municipal (FEM), em fevereiro, com o objetivo de desburocratizar o repasse de verbas para projetos das prefeituras pernambucanas. O novo pacto foi, inclusive, explorado na propaganda nacional do PSB, exibida em abril deste ano.
Formado em economia, Eduardo não perdeu uma única oportunidade de bater na condução econômica do governo federal. Criticou a política fiscal, a desoneração tributária e o baixo crescimento do País, afirmando que o “ciclo do crescimento” havia se perdido. O governador foi além, chegando a declarar que faltava ao governo Dilma Rousseff um “rumo estratégico”.
Outro ponto de conflito entre o governo federal e Eduardo foi a Medida Provisória 595, conhecida como a MP dos Portos, que tinha como objetivo reorganizar os terminais portuários do País. O governador avaliava que a MP geraria perda de autonomia dos Estados para a licitação de áreas portuárias, o que poderia prejudicar os negócios em Suape.
O governador também havia entrado no debate sobre os royalties do petróleo. Para valorizar seu passe nacionalmente, tentou intermediar um acordo entre os Estados produtores e não produtores, que terminou não vingando.
Durante as manifestações de junho passado, o PSB soltou uma carta em que condenava abertamente a política de alianças do governo federal, quando, pela primeira vez, levantou a possibilidade de entregar os dois ministérios que comandava (Integração Nacional e Portos). Com o peso dos governadores da legenda, a proposta não progrediu, à época.
Apesar de ter contrariado a presidente com declarações favoráveis ao resgate de um senador boliviano pelo diplomata Eduardo Sabóia, a gota d’água para o desembarque do PSB do governo federal foi a foto que ilustrou o pacto de não agressão entre Eduardo e outro presidenciável, o senador Aécio Neves (PSDB).