Diagnóstico impreciso compromete saúde de servidores em hospital do Estado

Antônio Assis
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Paciente recebeu no HSE diagnóstico de estresse. Descobriu depois que havia tido um infarto e um derrame

Foto: reprodução
Malu Silveira

NE10
Quando foi socorrida pela primeira vez, em junho passado, no Hospital do Servidor do Estado (HSE) com pressão alta e dormência nos braços, a servidora pública Maria da Silva*, de 54 anos, recebeu o seguinte diagnóstico: estresse. Entre idas e vindas, foram mais de cinco atendimentos emergenciais com análises imprecisas. A resposta só veio três meses depois quando Maria conseguiu marcar consulta com uma neurologista do Hospital da Restauração (HR), área central do Recife, que confirmou o verdadeiro motivo dos sintomas: a servidora havia sofrido neste período um infarto e um derrame leve.


"O médico disse que era normal, que eu esquecesse, que não era nada demais. Sempre com os mesmos sintomas, faziam exame de sangue, faziam eletro que dava isquemia e disseram que o estresse causa isso. E eu dizia: mas eu não sou estressada!", relembra Maria. Em um dos atendimentos, a taxa das enzimas cardíacas - indispensáveis para o diagnóstico definitivo de infarto do miocárdio - deu alterada, o que significava problemas. "A equipe achou que era, talvez, um erro de leitura. Repetiram (o exame) e deu alterado mais uma vez. Foi quando a médica disse que esse tipo de erro era comum."

A servidora decidiu, então, procurar um cardiologista conveniado ao Sassepe (Sistema de Assistência à Saúde dos Servidores do Estado de Pernambuco) já que que nunca havia tido qualquer problema relacionado à pressão alta. "O cardiologista pediu um exame ergométrico, mas eu não consegui fazer porque estava enfraquecida. Voltei com um mês e ele pediu uma cintilografia", afirma.


Maria deveria voltar para o cardiologista no dia 10 de setembro, mas a consulta foi remarcada para 8 de outubro após descredenciamento do médico. "Dois meses perdidos não é?!", lamenta. Com o adiamento da consulta, ela decidiu tentar outra alternativa. "Fiquei tão ansiosa que marquei a neurologista. Foi quando ela disse que eu tinha tido um infarto."

"A minha vida mudou de repente. Minha rotina. Sempre insegura, com aquela angústia"
A demora no diagnóstico custou caro à Maria, servidora do Estado há 29 anos e prestes a se aposentar. "Mudou totalmente minha vida. Fiquei com sequelas na coordenação motora e na fala", desabafa.


Caso parecido aconteceu com Joel de Carvalho, de 57 anos. No início de 2012, o servidor começou a sentir fortes dores no dedão do pé. Diagnósticos imprecisos lhe renderam a amputação de três dedos. "No Sassepe, fui atendido por um clínico geral que me encaminhou para um ortopedista, mas eu sabia que não era caso de ortopedia porque não tinha levado nenhuma pancada", lembra.



No mesmo dia, Joel foi atendido pela rede conveniada de ortopedia. "O médico não passou nenhum remédio. Não houve exame também. Ele sequer olhou direito o meu pé", diz. O paliativo foi uma injeção, que não funcionou a longo prazo. "No segundo dia eu já estava em um ponto que não conseguia nem pisar no chão. Voltamos para o Sassepe e quando viram meu pé muito inchado decidiram que eu tinha que me internar."



Após duas transferências de unidades de saúde, Joel descobriu o que lhe atingia: erisipela, uma infecção cutânea causada por uma bactéria que penetra a pele através de um pequeno ferimento. O microrganismo dissemina-se pelos vasos linfáticos e pode atingir o tecido subcutâneo e gorduroso.



O servidor precisou ser operado no Hospital Prontolinda, em Olinda, Grande Recife. "Fui diagnosticado no Alfa, onde o médico que me atendeu fez todos os exames e mandou chamar um cirurgião porque o dedo já estava cheio de bolhas. Nesta brincadeirinha, perdi meu dedo."



Dois meses depois, o local voltou a inflamar e Joel - que sofre de diabetes há mais de 30 anos - perdeu mais dois dedos. "Não é só a falta de um diagnóstico (o problema), mas também a falta de um especialista. Só fui ser atendido por um especialista cinco dias depois", desabafa.



POSICIONAMENTO - A diretoria do IRH (Instituto de Recursos Humanos), responsável pela gestão do Hospital dos Servidores do Estado, informou por meio de sua assessoria de imprensa que está averiguando as denúncias para tomar as providências e encaminhamentos. 



O Instituto informou ainda que o HSE realiza, em média, 18 mil atendimentos por mês, sendo cerca de 5 mil para atendimentos de urgência. Este universo representa 78 mil atendimentos por ano. Os dois casos apresentados pela reportagem do NE10, segundo o IRH, podem ser tratados, a princípio, como casos isolados. 



Confira a nota na íntegra: 



"O Hospital dos Servidores do Estado de Pernambuco realiza, em média 18.000 atendimentos por mês, sendo de cerca 5.000 na urgência. Este universo representa  78.000 atendimentos por ano e os  2 casos de possíveis de erros de médicos do HSE podem ser, a princípio, tratados como casos isolados.

A  diretoria do IRH, está  averiguando as denúncias para tomar as providências e encaminhamentos que o caso requer.

Diretoria do IRH"

* Maria da Silva é um nome fictício. A servidora não quis se identificar

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