Muito boa, antológica, a entrevista que
o papa Francisco concedeu ao Gerson Camarotti, merecedora de um prêmio especial
por vários motivos, pelo entrevistado e pelo entrevistador.
Há 2.000 anos, são raríssimas as
entrevistas pessoais com os chefes da Igreja Católica. Não havia veículos de
transmissão e, quando surgiram jornais, revistas, rádio e TV, continuaram
raríssimas. Para falar a verdade, só me lembro de três.
Viajei com João Paulo 2º duas vezes.
Bati papo com ele, mas não foi uma entrevista. Ele contou que havia aprendido a
dizer em português "aquele abraço". Perguntou se colava mal repetir a
saudação em seus pronunciamentos oficiais. Não me deu conselho algum, mas o
pediu a um pecador, agnóstico profissional.
Papa Francisco respondeu com
sinceridade e coragem a todas as perguntas do Gerson. Na edição da entrevista,
houve inserções dos seus pronunciamentos públicos, inclusive o que me pareceu
mais veemente, quando exigiu que os jovens continuassem a protestar em todo o
mundo contra uma sociedade injusta e violenta. Chegou a dizer, em público e na
entrevista pessoal, que o jovem calado não é do seu agrado.
Reconheceu os pecados da igreja, ele
próprio se admitiu pecador. Não será fácil reformar a Cúria Romana, poderá até
se tornar trágico --já houve precedentes ao longo da história.
A sua primeira visita internacional foi
mais do que um sucesso. Ele chegou a pedir desculpa ao prefeito do Rio pela
"bagunça" que provocou na cidade. A culpa não foi dele, mas das
autoridades locais, que se mostraram incompetentes para enfrentar um evento de
nível mundial.
A palavra que Francisco mais falou na
entrevista foi "proximidade". A mãe que segura o filho no colo e fala
com ele no peito, e não por meio de cartas e homilias. Valeu.
Fonte: Folha de S.Paulo
BOM, MAS TEM DE MELHORAR
O IDHM (Índice de Desenvolvimento
Humano Municipal) confirma que o Brasil, mesmo que aos trancos e barrancos, vai
no bom caminho. E que, apesar das críticas e da guerra cruenta entre PSDB e PT,
foi sob o comando do sociólogo Fernando Henrique Cardoso e do grande líder de
massas Luiz Inácio Lula da Silva que o país efetivamente deu seu grande salto.
A pesquisa mostra que o IDH do Brasil
melhorou 47,5% em duas décadas e saiu de "muito baixo" para
"alto". Em 1991, 85,8% dos municípios brasileiros tinham um IDH
"muito baixo". Em 2010, era apenas 0,6%.
O maior salto é no Norte/Nordeste, mas
o Sul/Sudeste continua na dianteira. O DF fica em primeiro lugar, mas, como é
"hors-concours" por ser muito peculiar, cede lugar a São Paulo, ou
seja, à "locomotiva" do Brasil. De onde, aliás, o carioca Fernando
Henrique e o pernambucano Lula saíram para o Planalto e para mudar a cara do país.
Um porque combateu a inflação, elevou o
patamar internacional do país, botou a casa em ordem na economia e deu o
"start" em programas sociais cruciais. O outro porque manteve uma
política macroeconômica saudável e transformou o grande momento mundial em
oportunidade para uma inclusão social histórica.
Caminhando ao lado dos dois regimes
--um continuação do outro--, estávamos a população em geral, a academia, a
indústria, o agronegócio e a imprensa independente cobrando, provocando,
apontando erros e exigindo sempre mais. Assim se constrói um país melhor. Assim
se consolida a cidadania. E daí 1 milhão de pessoas vão às ruas botando o dedo
nas feridas e na cara dos governantes de todos os níveis.
Há muito ainda a fazer, principalmente
na educação. O último lugar em desenvolvimento humano foi Melgaço (PA), onde
metade da população não sabe ler nem escrever. Enquanto houver
"Melgaços" no Brasil, gritemos. Oba-oba os governantes já fazem à
exaustão.
Fonte: Folha de S.Paulo
REMANSO PARA DILMA
E prefeitos tiveram suas taxas de
popularidade avariadas pelos protestos de junho, como mostrou a pesquisa
Datafolha do final do mês passado.
Agora, dois outros levantamentos
divulgados nesta semana mostram um grau de deterioração similar. No caso de
Dilma Rousseff, as pesquisas da CNT e do Ibope indicam que a petista parece ter
estacionado no patamar de 30% das intenções de votos na disputa pelo Planalto
em 2014.
A primeira pesquisa a detectar a grande
queda de Dilma foi a do Datafolha, cujos dados começaram a ser coletados em 27
de junho. Os levantamentos seguintes foram realizados de 7 a 10 deste mês (CNT)
e de 11 a 14 (Ibope). Embora com metodologias diferentes, os três estudos
colocam a atual presidente na mesma faixa dos 30% nos cenários mais prováveis da
corrida sucessória.
Tudo indica que se formou um remanso
para Dilma Rousseff. Ela parou de cair. Não há dados conhecidos para todos os
governadores e prefeitos, mas o mais provável é que o remanso seja quase geral.
Os brasileiros estavam irritados. Foram às ruas e protestaram. Desidrataram o
nível de confiança que depositavam nos políticos. Agora, vão esperar um pouco
para ver o que acontece.
Para Dilma, a notícia é boa e ruim ao
mesmo tempo. A parte positiva é ter estancado a sua queda. A negativa é que
está perigosamente estacionada numa faixa em que pode ser superada pela soma
das intenções de voto dos demais adversários.
A oposição emerge ainda frágil e com um
sinal amarelo para candidatos do establishment como Aécio Neves (PSDB) e
Eduardo Campos (PSB). Até porque, quem mais se beneficiou até agora da
derrapada de Dilma foi um nome da terceira via, a verde Marina Silva e sua
Rede.
*
E nesse remanso, entro duas semanas em
férias. Até a volta.
Fonte: Folha de S.Paulo