O grito de revolta de Caetano Veloso

Antônio Assis
0
O cantor, músico, produtor, escritor, poeta e compositor baiano Caetano Emanuel Viana Teles Veloso, o genial Caetano Veloso, na letra da marcha “Alegria, Alegria” apresentada no III Festival de MPB da TV Record, em 1967, rompeu com todos os estilos até então escritos, visto que encontra-se em um regime ditatorial no Brasil e, com esta música, procura conscientizar e incentivar a população a se rebelar e protestar contra o governo da época, conforme explica o professor de português Alexandre Varela Castilho.

Segundo o professor, nos primeiros versos, Caetano já manifesta a sua ideia política contrária a ditadura militar, na época, vigente no país, ou seja, “caminhando contra o vento” significa resistência,  “sem lenço e sem documento” eram acessórios obrigatórios para se andar nas ruas,  então andar sem o lenço reforçava a ideia de resistência e rebeldia, já o documento seria para dificultar a sua identificação ao ser abordado pela polícia. Uma estratégia dos rebeldes do sistema politico.

Alexandre Castilho afirma que, a estrofe “O sol se reparte em crimes/Espaçonaves, guerrilhas/Em cardinales bonitas/Eu vou…”, refere-se ao jornal O Sol, que circulava na zona sul carioca. “O sol nas bancas de revista/ Me enche de alegria e preguiça/ Quem lê tanta notícia/Eu vou…”, trata-se de uma referência à censura, prossegue o professor Alexandre Castilho, porque o governo controlava todos os meios de comunicação e tudo que era divulgado ao povo.

A marcha “Alegria, Alegria” foi gravada por Caetano Veloso em Compacto simples, em 1967, pela Philips.

ALEGRIA, ALEGRIA
Caetano Veloso

Caminhando contra o vento
Sem lenço, sem documento
No sol de quase dezembro
Eu vouO sol se reparte em crimes,
Espaçonaves, guerrilhas
Em cardinales bonitas
Eu vou


Em caras de presidentes
Em grandes beijos de amor
Em dentes, pernas, bandeiras
Bomba e brigitte bardot
O sol nas bancas de revista
Me enche de alegria e preguiça
Quem lê tanta notícia
Eu vou

Por entre fotos e nomes
Os olhos cheios de cores
O peito cheio de amores vãos
Eu vou
Por que não, por que não

Ela pensa em casamento
E eu nunca mais fui à escola
Sem lenço, sem documento,
Eu vou

Eu tomo uma coca-cola
Ela pensa em casamento
E uma canção me consola
Eu vou

Por entre fotos e nomes
Sem livros e sem fuzil
Sem fome sem telefone
No coração do Brasil

Ela nem sabe até pensei
Em cantar na televisão
O sol é tão bonito
Eu vou
Sem lenço, sem documento
Nada no bolso ou nas mãos
Eu quero seguir vivendo, amor
Eu vou
Por que não, por que não…
(Colaboração enviada por Paulo Peres - site Poemas & Canções)


Postar um comentário

0Comentários
Postar um comentário (0)