Saúde e Educação para os menininhos - Carlos Chagas

Antônio Assis
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Vale começar com uma historinha. João Pedro, menininho de cinco  anos, estava atento em sua carteira, na sala de aula, mas, resfriado, espirrou. A professora imediatamente exclamou “saúde”, como mandam as regras de boa civilidade.  Logo depois, no entanto,  o Juquinha gritou “educação”.  Mariazinha, lá de trás, acrescentou “transporte decente”, seguindo-se exortações do resto da classe: “abaixo a corrupção”, “chega de violência” e  “reforma política”.  As palmas que se seguiam a cada referência só foram substituídas por ruidosa vaia dos pimpolhos quando o  Luizinho exclamou “constituinte exclusiva” e o Henriquinho completou com “plebiscito já”.

Impressionou-se a professora, fazendo votos para que o João Pedro não espirrasse outra vez. Concluiu pela necessidade de alterar as aulas de alfabetização, abandonando o “Ivo Viu a Uva” por  “O Povo Unido Jamais Será Vencido”. 

O episódio dá bem a conta de como a sociedade continua mobilizada, apesar de terem arrefecido as manifestações de rua. O país está ligado na importância de exigir melhor qualidade de vida e  de costumes. Os pais transmitem aos filhos, mesmo pequenos, a indignação generalizada.

É precisamente nessa hora que o Congresso entrou de férias. Nada se votará até agosto nos plenários da Câmara e do Senado, apesar de ter começado a trabalhar a Comissão Especial de Deputados, que proporá a reforma política, e de uns poucos senadores permanecerem em Brasília. 

Eis aí o primeiro nó que faz prever a demora na adoção de mudanças fundamentais nas instituições políticas e eleitorais: entre os senadores,  registra-se mal estar, quase indignação, pelo fato de serem  obrigados  a ficar três meses imobilizados, aguardando a decisão dos deputados.   Como também pelo fato de algumas reformas terem sido aprovadas meses atrás no Senado  e se encontrarem dormindo nas gavetas da Câmara, quando não foram rejeitadas. 

O que farão os senadores enquanto as propostas dos deputados não  tiverem sido completadas, no prazo de noventa dias? Poderão estar  afiando suas adagas para rasgar boa parte das sugestões que vierem do outro lado do palácio do Congresso,  senão por  convicção, quem sabe por vingança. Pouco importa, porque nem uns nem outros   chegarão  a qualquer resultado efetivo  em favor da reforma política. Falta consenso em questões como o financiamento público ou privado das campanhas, o  fim das coligações, a votação em listas partidárias, a cláusula de barreira, a extinção da reeleição, o voto distrital, o distritão e até a supressão total da figura dos suplentes de senador. 

Haverá uma hipótese para Suas Excelências retornarem do ócio, em agosto,  dispostos a aprovar tudo o que o bom senso exige: se os menininhos forem para a rua espirrando,  junto com suas famílias, para decretar  o fim dessa era de enganações…

UNHAS DE FORA

Organizam-se os conservadores,  no Congresso. Pretendem incluir nos debates da reforma política temas como o da diminuição dos poderes e do tamanho do Estado, ao tempo em que reivindicam mais prerrogativas e mais espaço para a iniciativa privada. Sustentam que a economia vai mal e apenas se irá recuperar com a queda nos gastos públicos. Sugerem cortes não apenas nos ministérios, mas no serviço público, com a demissão em massa de funcionários. 

Só falta mesmo proporem o congelamento de salários e  mais isenção fiscal para as empresas. Logo passarão a reviver a necessidade da privatização da Petrobrás, do Banco do Brasil e da Caixa Econômica. 

EXAGEROU

É estranha essa prática do ex-presidente Lula de ficar calado aqui e exprimir suas opiniões no New York Times. Mais chocante, porém, é ler o que ele escreve, ou que Luís Dulci escreve por ele. Afirmar que as manifestações e protestos de rua são o reconhecimento do sucesso de seu governo, com todo o respeito, é uma bobagem. Agora, dizer que o PT precisa mudar,  é uma evidência. Retornar às origens, mesmo sendo governo, não configura missão impossível para os companheiros.

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