
Os gritos dos jovens manifestantes que ocuparam as ruas de muitas cidades brasileiras chegaram ao Vaticano e foram ouvidos pelo papa Francisco.
Os discursos que fará aqui na semana que vem, durante a Jornada Mundial da Juventude, foram reformulados. E devem ir "ao encontro do que pedem os manifestantes", afirma Frei Betto, amigo há 15 anos do cardeal d. Cláudio Hummes, um dos principais articuladores da eleição de Francisco e o brasileiro mais próximo do novo pontífice na estrutura de poder do Vaticano.
O papa já mostrou que é contra luxos e privilégios e deu sinal de que fará reformas éticas em Roma. Mas só aqui ele vai se revelar ao mundo e dizer a que veio, avalia Frei Betto. "Será a semana inaugural de seu papado", diz o dominicano, autor do recém-lançado "O Que a Vida me Ensinou".
Os protestos esperados deixam em alerta máximo os responsáveis pela segurança papal. Mas não será surpresa se os gestos de Francisco forem de simpatia e aproximação com os manifestantes, por mais que se preveja que nem todos lhe serão favoráveis.
Temas como legalização do aborto e ampliação de direitos dos homossexuais devem ser objetos de protesto. Pode ser uma oportunidade para o papa começar a tratar de questões complicadas como o uso de preservativos e o celibato clerical.
Em clima de pré-Jornada, jovens peregrinos dormem no aeroporto, circulam pela cidade, tiram fotos dos preparativos. No alto dos andaimes de ferro em Copacabana, homens de amarelo, azul e laranja correm contra o tempo. São católicos, evangélicos, católicos não praticantes, "meio evangélicos" e sem-religião, que não demonstram emoção ao construir o palco principal da festa nada franciscana que se arma no Rio.
O desinteresse do homem comum sobre a igreja e a desvinculação da igreja da vida do homem comum são alguns dos desafios de Francisco.
Fonte: Folha de S.Paulo
PROIBIDO OBRIGAR
No Brasil, como se sabe, o que não é proibido é obrigatório. Veja a obrigatoriedade da tomada de três pinos. Até há pouco, parecia uma piada. Mas é para valer. Em breve, todas as tomadas domésticas terão de ser adaptadas para receber os fabulosos três pinos. Para ter uma ideia do alcance da medida, imagine um apartamento de quarto e sala. Entre computador, TV, geladeira, micro-ondas, liquidificador, secador de cabelo, carregador de celular, ferro de passar, ar-condicionado, abajures e repelente de pernilongo, ninguém vive sem pelo menos 30 tomadas em casa.
No Brasil, há 73 milhões de unidades consumidoras de energia. Se todas fossem quarto e sala --esqueça os escritórios, lojas e fábricas--, e à média de 30 tomadas em cada, o número de tomadas a adaptar passaria de dois trilhões. Pode-se avaliar a sensação de poder que deve estar embriagando o pai da tomada de três pinos no Brasil?
O mesmo quanto a uma medida mais antiga e já em circulação em muitos Estados: a proibição de saleiros nas mesas dos restaurantes e sua obrigatória substituição por aqueles sachezinhos de sal. A cada 200 refeições servidas por um restaurante, 100 sachês são abertos pelos clientes, salpicados com culpa sobre a batata frita e deixados quase intatos sobre a mesa.
Agora multiplique o número de restaurantes em sua cidade pela média de refeições que eles servem por dia e, sendo generoso, divida o resultado por dois, se achar que em apenas metade delas se abrirá um sachê. O resultado será a monumental quantidade de sachês/lixo produzida por uma única cidade e cujo destino serão os lixões --ou os esgotos, os rios e o mar. E só porque alguém implicou com os saleiros.
No Brasil, por 21 anos, foi quase proibido votar. Hoje é obrigatório. Mas, com esses partidos e políticos, deveria ser proibido obrigar.
Fonte: Folha de S.Paulo
DESMATAMENTO NA AMAZÔNIA ESTÁ EM ALTÁ EM ALTA, INDICA ONG
Mais um sistema de monitoramento indica que o desmatamento na Amazônia pode ter voltado a subir. A ONG Imazon (Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia) viu aumento de 103% no acumulado entre agosto de 2012 e junho de 2013, em comparação com o mesmo período do ano anterior.
Só em junho, o SAD (Sistema de Alerta de Desmatamento), feito via satélite, detectou 184 km² de desmatamento ou degradação, um aumento de 437% sobre o mesmo mês de 2012.
No fim do ano passado, o Brasil comemorou a mais baixa taxa de desmate desde que o monitoramento começou, em 1988. No entanto, os números preliminares mais recentes indicam uma tendência contrária.
Nos últimos meses, dados do governo também indicam uma tendência de aumento.
Números do sistema Deter,o sistema de monitoramento em tempo real do do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), mostraram uma alta significativa. Em maio de 2013, 465 km² foram possivelmente afetados --um aumento de 370% sobre maio de 2012.
"O aumento na tendência de desmatamento está detectado tanto nos dados do governo como nos do Imazon. Acho que não resta muita dúvida de que algo está acontecendo", diz Adalberto Veríssimo, pesquisador do Imazon e um dos autores do estudo. "Não foi um aumento leve."
Ambos os dados ainda não são definitivos. O monitoramento feito por eles é prejudicado pela presença de nuvens, além de a resolução de imagem ser limitada.
Os números oficiais do desmatamento na Amazônia usados pelo governo são os do Prodes, também do Inpe, mas que faz uma detecção mais refinada e só é divulgado uma vez por ano.
"E está muito bom assim. É um número consolidado, reflete um ciclo. Desmatamento não é inflação para ser divulgado mês a mês", avalia Dalton Valeriano, coordenador do programa de monitoramento do Inpe.
NUVENS
O pesquisador criticou a metodologia do Imazon e afirmou que os números do Deter, do próprio Inpe, não foram feitos para serem um sistema de comparação, mas sim uma forma de alertar o Ibama rapidamente.
"Ainda não dá para falar em aumento. Esse sistema não se diferencia degradação e áreas totalmente desmatadas. Isso é um dos pontos importantes, sem contar os erros que podem ser provocados pela cobertura de nuvens", completa ele.
O diretor de proteção ambiental do Ibama, Luciano Menezes de Evaristo, diz que o órgão tem seguido firme na fiscalização.
"Não vou negar que existe uma pressão [de desmatamento]. Mas nós estamos conseguindo controlar isso. Da mesma maneira que fizemos no ano passado."
O diretor destaca que, em 2013, o Ibama manteve a fiscalização intensa mesmo no período de chuvas, o que dificultou o escoamento de madeira ilegal.
"Pode até ser que consigam desmatar um pouco, mas não conseguem completar o ciclo nem retirar a madeira", diz Evaristo.
Fonte: Folha de S.Paulo