O Papa ouviu as ruas

Antônio Assis
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Os gritos dos jovens manifestantes que ocuparam as ruas de muitas cidades brasileiras chegaram ao Vaticano e foram ouvidos pelo papa Francisco.

Os discursos que fará aqui na semana que vem,‭ ‬durante a Jornada Mundial da Juventude,‭ ‬foram reformulados.‭ ‬E devem ir‭ "‬ao encontro do que pedem os manifestantes‭"‬,‭ ‬afirma Frei Betto,‭ ‬amigo há‭ ‬15‭ ‬anos do cardeal d.‭ ‬Cláudio Hummes,‭ ‬um dos principais articuladores da eleição de Francisco e o brasileiro mais próximo do novo pontífice na estrutura de poder do Vaticano.

O papa já mostrou que é contra luxos e privilégios e deu sinal de que fará reformas éticas em Roma.‭ ‬Mas só aqui ele vai se revelar ao mundo e dizer a que veio,‭ ‬avalia Frei Betto.‭ "‬Será a semana inaugural de seu papado‭"‬,‭ ‬diz o dominicano,‭ ‬autor do recém-lançado‭ "‬O Que a Vida me Ensinou‭"‬.

Os protestos esperados deixam em alerta máximo os responsáveis pela segurança papal.‭ ‬Mas não será surpresa se os gestos de Francisco forem de simpatia e aproximação com os manifestantes,‭ ‬por mais que se preveja que nem todos lhe serão favoráveis.

Temas como legalização do aborto e ampliação de direitos dos homossexuais devem ser objetos de protesto.‭ ‬Pode ser uma oportunidade para o papa começar a tratar de questões complicadas como o uso de preservativos e o celibato clerical.


Em clima de pré-Jornada,‭ ‬jovens peregrinos dormem no aeroporto,‭ ‬circulam pela cidade,‭ ‬tiram fotos dos preparativos.‭ ‬No alto dos andaimes de ferro em Copacabana,‭ ‬homens de amarelo,‭ ‬azul e laranja correm contra o tempo.‭ ‬São católicos,‭ ‬evangélicos,‭ ‬católicos não praticantes,‭ "‬meio evangélicos‭" ‬e sem-religião,‭ ‬que não demonstram emoção ao construir o palco principal da festa nada franciscana que se arma no Rio.

O desinteresse do homem comum sobre a igreja e a desvinculação da igreja da vida do homem comum são alguns dos desafios de Francisco.

Fonte:‭ ‬Folha de S.Paulo



PROIBIDO OBRIGAR‭ 

No Brasil,‭ ‬como se sabe,‭ ‬o que não é proibido é obrigatório.‭ ‬Veja a obrigatoriedade da tomada de três pinos.‭ ‬Até há pouco,‭ ‬parecia uma piada.‭ ‬Mas é para valer.‭ ‬Em breve,‭ ‬todas as tomadas domésticas terão de ser adaptadas para receber os fabulosos três pinos.‭ ‬Para ter uma ideia do alcance da medida,‭ ‬imagine um apartamento de quarto e sala.‭ ‬Entre computador,‭ ‬TV,‭ ‬geladeira,‭ ‬micro-ondas,‭ ‬liquidificador,‭ ‬secador de cabelo,‭ ‬carregador de celular,‭ ‬ferro de passar,‭ ‬ar-condicionado,‭ ‬abajures e repelente de pernilongo,‭ ‬ninguém vive sem pelo menos‭ ‬30‭ ‬tomadas em casa.


No Brasil,‭ ‬há‭ ‬73‭ ‬milhões de unidades consumidoras de energia.‭ ‬Se todas fossem quarto e sala‭ ‬--esqueça os escritórios,‭ ‬lojas e fábricas--,‭ ‬e à média de‭ ‬30‭ ‬tomadas em cada,‭ ‬o número de tomadas a adaptar passaria de dois trilhões.‭ ‬Pode-se avaliar a sensação de poder que deve estar embriagando o pai da tomada de três pinos no Brasil‭?


O mesmo quanto a uma medida mais antiga e já em circulação em muitos Estados:‭ ‬a proibição de saleiros nas mesas dos restaurantes e sua obrigatória substituição por aqueles sachezinhos de sal.‭ ‬A cada‭ ‬200‭ ‬refeições servidas por um restaurante,‭ ‬100‭ ‬sachês são abertos pelos clientes,‭ ‬salpicados com culpa sobre a batata frita e deixados quase intatos sobre a mesa.


Agora multiplique o número de restaurantes em sua cidade pela média de refeições que eles servem por dia e,‭ ‬sendo generoso,‭ ‬divida o resultado por dois,‭ ‬se achar que em apenas metade delas se abrirá um sachê.‭ ‬O resultado será a monumental quantidade de sachês/lixo produzida por uma única cidade e cujo destino serão os lixões‭ ‬--ou os esgotos,‭ ‬os rios e o mar.‭ ‬E só porque alguém implicou com os saleiros.


No Brasil,‭ ‬por‭ ‬21‭ ‬anos,‭ ‬foi quase proibido votar.‭ ‬Hoje é obrigatório.‭ ‬Mas,‭ ‬com esses partidos e políticos,‭ ‬deveria ser proibido obrigar.

Fonte:‭ ‬Folha de S.Paulo


DESMATAMENTO NA AMAZÔNIA ESTÁ EM ALTÁ EM ALTA,‭ ‬INDICA ONG‭ 

Mais um sistema de monitoramento indica que o desmatamento na Amazônia pode ter voltado a subir.‭ ‬A ONG Imazon‭ (‬Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia‭) ‬viu aumento de‭ ‬103%‭ ‬no acumulado entre agosto de‭ ‬2012‭ ‬e junho de‭ ‬2013,‭ ‬em comparação com o mesmo período do ano anterior.

Só em junho,‭ ‬o SAD‭ (‬Sistema de Alerta de Desmatamento‭)‬,‭ ‬feito via satélite,‭ ‬detectou‭ ‬184‭ ‬km²‭ ‬de desmatamento ou degradação,‭ ‬um aumento de‭ ‬437%‭ ‬sobre o mesmo mês de‭ ‬2012.

No fim do ano passado,‭ ‬o Brasil comemorou a mais baixa taxa de desmate desde que o monitoramento começou,‭ ‬em‭ ‬1988.‭ ‬No entanto,‭ ‬os números preliminares mais recentes indicam uma tendência contrária.

Nos últimos meses,‭ ‬dados do governo também indicam uma tendência de aumento.

Números do sistema Deter,o sistema de monitoramento em tempo real do do Inpe‭ (‬Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais‭)‬,‭ ‬mostraram uma alta significativa.‭ ‬Em maio de‭ ‬2013,‭ ‬465‭ ‬km²‭ ‬foram possivelmente afetados‭ ‬--um aumento de‭ ‬370%‭ ‬sobre maio de‭ ‬2012.

‭"‬O aumento na tendência de desmatamento está detectado tanto nos dados do governo como nos do Imazon.‭ ‬Acho que não resta muita dúvida de que algo está acontecendo‭"‬,‭ ‬diz Adalberto Veríssimo,‭ ‬pesquisador do Imazon e um dos autores do estudo.‭ "‬Não foi um aumento leve.‭"

Ambos os dados ainda não são definitivos.‭ ‬O monitoramento feito por eles é prejudicado pela presença de nuvens,‭ ‬além de a resolução de imagem ser limitada.

Os números oficiais do desmatamento na Amazônia usados pelo governo são os do Prodes,‭ ‬também do Inpe,‭ ‬mas que faz uma detecção mais refinada e só é divulgado uma vez por ano.

‭"‬E está muito bom assim.‭ ‬É um número consolidado,‭ ‬reflete um ciclo.‭ ‬Desmatamento não é inflação para ser divulgado mês a mês‭"‬,‭ ‬avalia Dalton Valeriano,‭ ‬coordenador do programa de monitoramento do Inpe.

NUVENS

O pesquisador criticou a metodologia do Imazon e afirmou que os números do Deter,‭ ‬do próprio Inpe,‭ ‬não foram feitos para serem um sistema de comparação,‭ ‬mas sim uma forma de alertar o Ibama rapidamente.

‭"‬Ainda não dá para falar em aumento.‭ ‬Esse sistema não se diferencia degradação e áreas totalmente desmatadas.‭ ‬Isso é um dos pontos importantes,‭ ‬sem contar os erros que podem ser provocados pela cobertura de nuvens‭"‬,‭ ‬completa ele.


O diretor de proteção ambiental do Ibama,‭ ‬Luciano Menezes de Evaristo,‭ ‬diz que o órgão tem seguido firme na fiscalização.

‭"‬Não vou negar que existe uma pressão‭ [‬de desmatamento‭]‬.‭ ‬Mas nós estamos conseguindo controlar isso.‭ ‬Da mesma maneira que fizemos no ano passado.‭"

O diretor destaca que,‭ ‬em‭ ‬2013,‭ ‬o Ibama manteve a fiscalização intensa mesmo no período de chuvas,‭ ‬o que dificultou o escoamento de madeira ilegal.


‭"‬Pode até ser que consigam desmatar um pouco,‭ ‬mas não conseguem completar o ciclo nem retirar a madeira‭"‬,‭ ‬diz Evaristo.


Fonte:‭ ‬Folha de S.Paulo

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