NINGUÉM OLHA PARA A PRAÇA

Antônio Assis
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A única praça do Conjunto Beira-‭ ‬Mar,‭ ‬no bairro do Janga‭ ‬,‭ ‬em Paulista,‭ ‬é o retrato do abandono.‭ ‬Quem mora nas proximidades ou circula no local percebe logo o descaso.‭ ‬Estrutura pichada,‭ ‬bocas de lobo abertas,‭ ‬mato crescendo e ruas esburacadas no entorno.‭ “ ‬Nem parece que o conjunto é um dos maiores da cidade.‭ ‬È um absurdo como a prefeitura trata seus moradores‭”‬,‭ ‬denuncia o leitor Sidcley‭  ‬Alves ao Jornal do Commercio

Fonte:‭ ‬Jornal do Commercio


PODER PARA OS ELEITORES‭ 
As manifestações populares trouxeram urgência à longamente debatida reforma política.‭ ‬Vários assuntos estão em foco,‭ ‬como financiamento de campanha,‭ ‬fortalecimento dos partidos,‭ ‬transparência etc.

Um ponto fundamental em qualquer sistema político é o de garantir que os eleitos,‭ ‬de fato,‭ ‬representem os interesses dos seus eleitores.


A experiência de muitos países mostra que,‭ ‬quanto mais próxima do eleitor e passível de cobrança,‭ ‬melhor é a re-‭ ‬presentação parlamentar em todos os níveis.‭ ‬E ela é fun-‭ ‬damental para a aprovação de leis de interesse da comunidade e a boa fiscalização do Executivo.

A prática política de países com democracias consolidadas aponta que um sistema bem-sucedido para assegurar a proximidade com o eleitor e a sua capacidade de fiscalizar seu representante é o distrital puro,‭ ‬em que cada parlamentar é eleito por um determinado distrito com um número limitado de eleitores.

Isso traz enormes benefícios como:‭ ‬1‭) ‬o candidato é mais conhecido e mais próximo da comunidade que o elege‭; ‬2‭) ‬a campanha é mais barata,‭ ‬já que o número de eleitores cortejados é bem menor‭; ‬3‭) ‬os eleitores têm capacidade muito maior de acompanhar a atuação do seu representante‭; ‬4‭) ‬será mais fácil aos eleitos prestar contas aos eleitores,‭ ‬já que estarão concentrados geograficamente,‭ ‬e não espalhados pelo Estado de forma muitas vezes errática.

O sistema distrital também pode transformar todas as eleições em escolhas majoritárias,‭ ‬desde que,‭ ‬em cada distrito,‭ ‬seja eleito apenas o mais votado nos níveis federal,‭ ‬estadual ou municipal.

Isso tende a reduzir o número de partidos de forma natural,‭ ‬já que sobreviverão só aqueles com presença majoritária em cada distrito.

E,‭ ‬na medida em que os candidatos disputam eleições entre número menor de eleitores,‭ ‬suas propostas e compromissos pós-eleitorais serão muito mais claros e transparentes.

Nos países com sistema distrital consolidado,‭ ‬um parlamentar que contrarie a linha de conduta preferida de seus eleitores ou a plataforma de seu partido tem muito mais chance de ser punido nas eleições seguintes.

Esse sistema,‭ ‬portanto,‭ ‬aumenta de forma substancial a eficiência e os bons resultados do sistema político,‭ ‬uma vez que a proximidade do eleito com o eleitor garante maior eficácia e transparência em todo o processo.

Isso tudo não é parte da nossa tradição política e cultural,‭ ‬e,‭ ‬portanto,‭ ‬a reforma deve seguir outras direções na tentativa de melhorar o sistema.

É necessário,‭ ‬no entanto,‭ ‬analisar alternativas bem-sucedidas para que possamos aprender não só com os nossos erros,‭ ‬mas com os erros e acertos dos outros.

Fonte:‭ ‬Folha de S.Paulo‭ (‬por‭ ‬HENRIQUE MEIRELLES‭)




É‭ ‬PRECISO MUDAR‭ “‬TUDO‭”‬,‭ ‬BEBÊ‭ 

Uma pesquisa entre os participantes das passeatas contra a ditadura nos anos‭ ‬60‭ ‬se a ideia tivesse ocorrido ao Ibope revelaria que‭ ‬90%‭ ‬eram universitários,‭ ‬moravam sozinhos e usavam seu próprio aparelho de barbear.‭ ‬Os‭ ‬outros‭ ‬10%‭ ‬eram secundaristas‭ ‬equivalentes aos que hoje estão no fim do ensino médio,‭ ‬moravam com a família e,‭ ‬embora a penugem em seus rostos fosse imperceptível,‭ ‬recorriam à gilete paterna.

Os universitários tinham em média‭ ‬21‭ ‬anos,‭ ‬liam Althusser,‭ ‬Plekhanov e Lukács,‭ ‬e alguns já haviam namorado uma ou outra atriz do cinema novo.‭ ‬Revolução era coisa séria,‭ ‬daí não quererem saber de secundaristas nas passeatas‭ ‬estes seriam imaturos,‭ ‬radicais,‭ ‬estabanados.‭ ‬Bem,‭ ‬a seriedade prevaleceu,‭ ‬mas foi derrotada do mesmo jeito.

Em‭ ‬2013,‭ ‬a composição das manifestações de rua é outra.‭ ‬É‭ ‬também um movimento de jovens‭ ‬só que muito mais jovens.‭ ‬A maioria parece oriunda do ensino médio,‭ ‬e já pensei ver entre eles recém-saídos do ensino fundamental.‭ ‬É como se,‭ ‬em‭ ‬1968,‭ ‬os manifestantes fossem os‭ ‬secundaristas e os ginasianos‭ ‬idade em que os objetivos são mais generosos do que práticos.‭ ‬É preciso mudar‭ "‬tudo‭"‬,‭ ‬você sabe,‭ ‬e para ontem.

A juvenilização da participação política é um fato,‭ ‬mas,‭ ‬desta vez,‭ ‬está produzindo resultados‭ ‬as bandeiras dos manifestantes,‭ ‬cada vez mais definidas,‭ ‬começam a chacoalhar o Planalto e o Congresso.‭ ‬E,‭ ‬a indicar que essa juvenilização é sem volta,‭ ‬tivemos no domingo último,‭ ‬no Parque do Flamengo,‭ ‬no Rio,‭ ‬o‭ "‬Ato brincante‭" ‬a manifestação de centenas de crianças,‭ ‬de zero a dez anos,‭ ‬que,‭ ‬levadas por suas belas e jovens mães,‭ ‬pintaram rostos e cartazes para protestar contra‭ "‬tudo‭"‬.

Fizeram bem essas mães.‭ ‬Precisamos mesmo preparar os bebês.‭ ‬Ao ritmo atual,‭ ‬em dez anos ou menos,‭ ‬será a vez deles saírem às ruas,‭ ‬e para valer.

Folha de S.Paulo