NENA CABRAL COMENTA QUE‭ ‬ERRAR NA POLÍTICA É FATAL‭

Antônio Assis
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Presidentes podem errar em muitas áreas.‭ ‬Adotar prioridades equivocadas na educação e na saúde.‭ ‬Decretar moratória da dívida externa sem saber como consertar a economia.‭ ‬Usar dinheiro de sobras de campanha.‭ ‬Comprar deputados para aprovar uma emenda constitucional.‭ ‬Autorizar um esquema de pagamento de propinas mensais.

Só há uma área na qual um presidente da República não pode derrapar:‭ ‬na política.‭ ‬Se o manejo político vai para o brejo,‭ ‬é difícil mitigar os estragos produzidos por outros tropeços.

Mas política não é uma ciência exata.‭ ‬É impossível saber quando o governante esgotou a sua taxa aceitável de barbeiragens.‭ ‬Em geral,‭ ‬percebe-se a degeneração só depois de a situação já estar irreversível.

O processo do impeachment de Fernando Collor,‭ ‬em‭ ‬1992,‭ ‬foi um exemplo clássico de péssima administração política.‭ ‬Não se entenda aqui‭ "‬administração política‭" ‬como comprar congressistas e mergulhar na fisiologia.‭ ‬Trata-se de exercer a arte da grande política.‭ ‬Conversar,‭ ‬saber ouvir.‭ ‬Às vezes,‭ ‬do outro lado da mesa,‭ ‬pode estar alguém com interesses heterodoxos.‭ ‬Ainda assim,‭ ‬é preciso buscar algum ponto de convergência dentro dos padrões da legalidade e da decência.

No caso da administração Dilma Rousseff,‭ ‬é nítida a dificuldade para gerenciar a política.‭ ‬Impressiona o número de aliados,‭ ‬petistas ou não,‭ ‬que hoje festejam o inferno astral da presidente.

Ela já chegou ao limite ou ainda há tempo para reparar os estragos‭? ‬Não há resposta para essa pergunta.‭ ‬Múltiplos aspectos devem ser considerados.‭ ‬Por exemplo,‭ ‬ninguém sabe se o mau humor atual dos agentes econômicos é passageiro ou se veio para ficar.

Tudo considerado,‭ ‬Dilma está perigosamente perto da taxa máxima de erros na política.‭ ‬Mas ela e todos nós só saberemos se o governo deu‭ "‬perda total‭" ‬no início de‭ ‬2014.

Fonte:‭ ‬Folha de S.Paulo


NENA CABRAL COMENTA:‭ ‬NO PLEBISCITO,‭ ‬ELEITORES NÃO TÊM PODER,‭ ‬APENAS ESPERANÇA‭ 

A ideia de um plebiscito pode parecer simples e soar como vitória,‭ ‬mas,‭ ‬das soluções possíveis,‭ ‬é a que traz mais incertezas e é a mais fácil de ser manipulada.

Ao contrário de um referendo,‭ ‬onde o eleitor vota em uma lei já pronta,‭ ‬no plebiscito ele vota em uma ideia.‭ ‬O resultado da votação apenas estabelece diretrizes para a elaboração,‭ ‬posteriormente,‭ ‬de uma lei pelo Legislativo.

Dilma chama equipe e cobra medidas além do plebiscito

Além disso,‭ ‬enquanto o resultado do referendo sempre vincula,‭ ‬o do plebiscito é menos preciso.‭ ‬O legislador,‭ ‬tendo ouvido as ruas,‭ ‬pode acabar legislando de uma maneira distinta.

Plebiscito é como comprar casa na planta:‭ ‬o eleitor vota na esperança de que o legislador legislará conforme instruído.‭ ‬Mas,‭ ‬depois de ter votado,‭ ‬perde o controle.‭ ‬Se a casa não for o que se esperava,‭ ‬paciência.

Referendo é como comprar a casa já pronta:‭ ‬é pegar ou largar.‭ ‬Mas,‭ ‬se largar,‭ ‬é preciso derrubar a casa e recomeçar do zero.‭ ‬Daí o diálogo ser crítico durante a elaboração do projeto.

Mas ainda que o legislador esteja politicamente comprometido a ouvir a voz das urnas,‭ ‬tal voz é facilmente manipulável no plebiscito.

Pense na seguinte pergunta:‭ "‬Você é a favor do voto em lista fechada‭?"

Se a maioria vota pelo‭ "‬não‭"‬,‭ ‬o legislador continua sem saber o que o eleitor quer.‭ ‬Sabe apenas o que o eleitor não quer.

Desde que não legisle pela lista fechada,‭ ‬terá respeitado a vontade do eleitor.

Ou pense nessa variação:‭ "‬Você prefere o voto em lista fechada ou distrital‭?"

Aqui o eleitor tem uma opção a mais,‭ ‬mas a pergunta deixa de fora as outras possibilidades.‭ ‬A opção pelo voto distrital não significa que ele é o preferido do eleitor,‭ ‬mas apenas que a outra opção apresentada é ainda pior.

O eleitor estará votando não necessariamente naquilo que quer,‭ ‬mas contra aquilo que não quer.

Em um plebiscito,‭ ‬o verdadeiro poder não reside no eleitor,‭ ‬mas em quem formula a pergunta.

Mesmo que lhe sejam apresentadas todas as opções possíveis‭ (‬o que é improvável‭)‬,‭ ‬o eleitor ainda não sabe exatamente no que está votando já que não sabe como o legislador interpretará o resultado.

Fonte:‭ ‬Folha de S.Paulo