Em todo o Brasil, estão marcadas para hoje manifestações de médicos contra as últimas medidas do governo Dilma. A maior, em São Paulo, promete ?cortejo fúnebre?
As decisões anunciadas pelo governo na semana passada azedaram completamente a relação entre médicos e a presidente Dilma Rousseff. A prova é que, dentre as manifestações marcadas para hoje em todo o país, está o "enterro" da presidente e de dois ministros relacionados às novas medidas.
Não são poucas as leis e ações do governo que estão na raiz dos protestos que devem ocorrer nesta terça-feira. Entre elas, o veto da presidente Dilma Rousseff a artigos importantes da lei conhecida como “Ato Médico”, a decisão de obrigar formandos de medicina a atuar por dois anos no sistema público de saúde, apresentada pelo ministro da Educação, Aloizio Mercadante, e a proposta de trazer médicos estrangeiros sem revalidação de diploma para atuar em áreas isoladas, defendida pelo ministro da Saúde, Alexandre Padilha.
Associações de médicos marcaram manifestações em todo o país. Em São Paulo, a partir das 16h, os médicos deverão se concentrar próximos ao Conselho Regional de Medicina (Cremesp), na Consolação, e seguirão até a praça Roosevelt, no Centro. Os organizadores prometem um “cortejo fúnebre” com caixões representando Dilma Rousseff, Mercadante e Padilha. Ação semelhante já foi feita em Brasília.
Antes do protesto, porém, as entidades médicas devem anunciar medidas jurídicas contra as decisões do governo. Segundo o presidente do Cremesp, Renato Azevedo, a ação mais provável de ser tomada será uma “ação direta de inconstitucionalidade”.
“Vamos atuar junto ao Congresso Nacional para derrubar o veto da presidente”, disse Azevedo em entrevista a EXAME.com. “E vamos continuar mobilizando politicamente os médicos do Brasil inteiro para protestar”, afirmou.
Fonte: Folha de S.Paulo
O MUNDO DE LULA
Luiz Inácio Lula da Silva escreveu um artigo para o jornal "The New York Times" a respeito da onda de protestos de rua pelo Brasil.
O ex-presidente usa o texto para duas finalidades. Primeiro, faz um autoelogio sobre seu governo e a ampliação da sociedade de consumo. Depois, aponta razões da insatisfação dos brasileiros. Aí, claro, o responsável é um sujeito oculto.
O PT está no comando do país há dez anos e meio, com Lula e Dilma Rousseff. É mérito petista o aumento do mercado consumidor. Mas está nesse mesmo escaninho a responsabilidade pelo que não foi realizado.
"Eles [os manifestantes] querem uma melhoria na qualidade dos serviços públicos", escreve Lula. É verdade. E prossegue: "As preocupações dos jovens não são apenas materiais (...) Acima de tudo, eles demandam instituições políticas que sejam mais limpas e transparentes, sem as distorções do sistema político-eleitoral anacrônico brasileiro, que recentemente se mostrou incapaz de conduzir uma reforma".
Como assim? O "sistema" se mostrou incapaz? De qual sistema Lula está falando? O ex-presidente escreve como se não tivesse se esbaldado por oito anos em abraços com tudo o que ele próprio rejeitara no passado, inclusive xingando em público --como Fernando Collor e José Sarney.
Chega a ser comovente o esforço de Lula para se aproximar dos manifestantes que foram às ruas. Ele prega a renovação dos partidos, inclusive do PT. A proposta é curiosa.
Lula manda no PT. O que foi realizado para modernizar o petismo nos últimos dez anos? Nada, exceto distribuir cargos públicos a filiados.
"Enquanto a sociedade entrou na era digital, a política permaneceu analógica", escreve Lula. Já ele próprio entrou numa era de distanciamento. Até porque, se desejasse, poderia ter ido também à rua dialogar com os indignados durante o mês de junho. Mas o petista prefere escrever artigos para o "New York Times".
Fonte: Folha de S.Paulo
Sem Refresco
Depois do fracasso das manifestações
das centrais sindicais, a onda de protestos, tudo indica, vai dar um tempo.
Sinal de alívio para o Palácio do Planalto, mas não de que tudo voltará ao
normal.
Pelo contrário. As vozes das ruas
agudizaram uma situação que já não estava boa para a presidente Dilma Rousseff
e que, neste momento, ficou um pouco pior.
Até que a petista saiu melhor do que entrou na crise do mês de junho. Lançou o
plebiscito da reforma política e dirá que o enterro da ideia é culpa do
Congresso. Criou a imagem de que ouviu a voz das ruas e saiu divulgando
programas.
Agora, terá de concentrar seu foco na
agenda política e econômica, onde os sinais são de riscos potenciais, o que
assusta o mundo petista na véspera de ano eleitoral.
No Congresso, o clima é de tocaia. O governo perdeu o controle sobre a pauta do
Legislativo e, com a base rebelada, teme derrotas pela frente.
De uma delas até se safou, ao fechar
acordo no Congresso para engavetar 1.700 vetos, alguns verdadeiras bombas
fiscais. Em troca, sabe que agora seus vetos irão a votação no plenário do
Legislativo.
Algo perigoso para uma presidente que,
com aliados infiéis, acostumou-se a vetar tudo aquilo em que era derrotada no
Congresso. Esse caminho pode estar interditado.
Na economia, dentro do próprio governo
já se fala no risco de crescimento abaixo de 2% em 2013. O que já despertou
discussões sobre o tamanho do corte de gastos.
O temor é que um arrocho fiscal muito
forte, defendido no mercado para segurar de vez a inflação, desacelere mais o
ritmo da economia neste ano, que já está fraco.
Enfim, o cenário não é de refresco. Na
política, a sorte é que o Congresso deve entrar em recesso, dando tempo para um
freio de arrumação. Na economia, o governo precisa deslanchar os leilões de
concessões. O fato é que 2014 vai chegando e a pressão só vai aumentar.
Fonte: Folha de S.Paulo