Férias impertinentes - Carlos Chagas

Antônio Assis
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Vive-se um período excepcional, para dizer o mínimo. Dias de tensão, conturbados, exigindo dos três poderes da União um desdobramento permanente em suas atividades, além de muita atenção para corresponderem às exigências da rua.

Pois aproxima-se uma prova de fogo, no caso, para o Legislativo. Está fixado constitucionalmente o recesso parlamentar para a próxima quinta-feira, dia 18. São poucos os deputados e senadores a sugerir a suspensão da folga, dada a necessidade de apressarem a votação de projetos só agora retirados do fundo das gavetas. A imensa maioria não abre mão de tirar férias, mesmo sob o pretexto de visitar suas bases e ouvir a voz de seus eleitores.

Seria uma prova de fogo permanecerem em Brasília. Uma demonstração de que o processo político mudou. O diabo é que ontem começaram as despedidas, ou seja, muita gente não virá à capital sequer para  trabalhar segunda, terça e quarta-feira. Ainda que precisem, nesses dias, votar obrigatoriamente o Orçamento, sem o que fica suspenso o recesso. Os líderes se encarregarão de aprová-lo, se não houver número.

É a velha história:  ninguém abre mão de regalias. Chocará a opinião pública assistir a  imagem dos plenários fechados e dos corredores vazios do Congresso. Em especial porque quem fizer plantão nos principais aeroportos do país certamente irá flagrar Suas Excelências e suas famílias embarcando para o Exterior.

Dias atrás o  presidente do Senado, Renan Calheiros, deixou o recesso em suspenso, na dependência do cumprimento da pauta super-carregada que preparou. Tem sofrido muita pressão para levantar a hipótese. Dificilmente resistirá, diante da possibilidade das ausências multiplicadas.

VETAR OS VETOS

O Congresso decidiu apreciar os vetos presidenciais a seus projetos num prazo fatal de trinta dias depois de adotados pela presidente Dilma, senão ficará trancada a pauta de seus trabalhos, até para a apreciação de medidas provisórias. Separadamente, porém, Câmara e Senado  manterão suas ordens do dia. É pouco, mas já significa alguma coisa.

O problema é que essa reação contra a prepotência do Executivo só valerá para os vetos apostos a partir de agora. Quer dizer, os 1.300 vetos anteriores e não examinados, desde o governo José Sarney, permanecerão como  herança maldita. Uma alternativa foi oferecida pelo Senado: a terceira terça-feira de cada mês será dedicada à votação dos vetos anteriores. Contas feitas apressadamente dão conta de que nem no final  da próxima Legislatura a tarefa estará terminada.

NÃO VOLTA?

Mais uma vez o ex-presidente  deixa claro não aceitar a proposta do “volta Lula”. Apesar de razoável grupo de companheiros insistir na hipótese, ele continua  decidido a levar a presidente Dilma à vitória na disputa pelo segundo mandato. Só não sabe, conforme suas últimas confidências, contra quem ela vai disputar. Marina Silva está na frente, do lado das oposições, mas Aécio Neves vem logo atrás.

O Lula não admite raciocinar sobre a candidatura de Joaquim Barbosa. Pelo jeito, é a que mais teme. 

NOVA DERROTA

Além de rejeitadas as propostas da Constituinte Exclusiva, do plebiscito, de 100 %  dos royalties do petróleo para educação e da lei dos médicos, a presidente Dilma sofrerá nova derrota com o projeto do trem-bala.

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