Estamos onde sempre estivemos

Antônio Assis
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Carlos Chagas

Ninguém nega o impacto que causaram as manifestações do mês de junho em todo o país, não obstante os excessos acontecidos. O povo nas ruas, protestando, foi sinal de que mudanças fundamentais se faziam  necessárias em nossas instituições e costumes.

A pergunta que se faz, porém, é sobre o que mudou depois dos protestos. Claro que o Congresso colocou muitos projetos de reforma política na pauta, assim como a presidente Dilma, além de dar sugestões, passou a receber grupos selecionados da sociedade civil, ainda que deixando de convocar a oposição.

Mas de palpável, efetivo, alterando as relações entre o Brasil real e o Brasil formal, até  agora nada. Sequer  os transportes coletivos melhoraram, mesmo ficando vinte centavos mais baratos. A educação e a saúde públicas permanecem revelando os mesmos defeitos, e a corrupção vai muito bem, obrigado, como indica o uso dos aviões da FAB por autoridades de todos os tipos e para todos os fins. A violência é  a mesma, produzindo insegurança para o cidadão comum, dentro e fora de sua casa.

Registre-se, para confirmar que nada mudou no plano institucional, nenhuma reforma política transformada em lei. Claro que essas coisas demoram, mas o clamor das ruas exigia ação e medidas de pronta vigência.

Da mesma forma, nem redução do número de ministérios, muito menos troca de ministros. E a mesma postura imperial da presidente da República quando se trata de impor seus pontos de vista, seja junto aos ministros, aos políticos e até aos líderes sindicais. 

O poder econômico insiste na tentativa de usurpar direitos sociais e de suas salas refrigeradas não saiu uma única proposta capaz de minorar as agruras dos assalariados. O capitalismo selvagem e desmedido manteve a postura daqueles três macaquinhos que nada falam, nada ouvem e nada vêem. O mercado continua o mesmo clubinho dos  privilégios,  empenhado em aumentar preços e sufocar salários   em nome de uma livre competição que não é nem livre e muito menos competição.

Nenhum privilégio, seja  de classe, berço ou religião,  viu-se revogado. Os ricos permanecem voando em seus helicópteros, as igrejas continuam sem pagar impostos, os pimpolhos sem freqüentar os postos de saúde e hospitais do SUS, além de passarem ao largo das escolas públicas.   

O sistema de segurança é o mesmo de sempre, bastando verificar que assaltos, arrastões, seqüestros e o tráfico de drogas até aumentaram, como vinham aumentando todos os meses, nas grandes e nas pequenas cidades.

Até a mídia continua em grande parte dominada pelos seus barões, poucas  famílias detentoras do poder de selecionar as notícias, muito mais do que as opiniões. 

Em suma, a voz das ruas que tanto emocionou,   foi uma novidade, mas estamos onde sempre estivemos.

A CRÍTICA DAS REDES SOCIAIS

Coube a Emmanuel Kant retificar os alicerces da razão pura,  na sua crítica aos excessos e ilusões do iluminismo crescente. Nem tudo poderia resumir-se aos instrumentos racionais empenhados em demolir a ditadura do misticismo e da opressão religiosa.

Estivesse entre nós o filósofo de Koenisberg e estaria preparando a crítica das redes sociais, que da noite para o dia transformaram-se na panacéia nacional. Obviamente  a contribuição das redes ao aprimoramento cultural é um fato, mas há quem julgue que uma simples troca de bilhetinhos eletrônicos entre as pessoas expõe sua fraqueza. Quem pode dar-se ao luxo de passar o dia, ou mesmo suas horas de folga, dedilhando essas maquininhas egoístas e  diabólicas? Celulares e penduricalhos deveriam servir para aprimorar condições de vida e de trabalho, jamais para absorver completamente tempo  e potencial do indivíduo.

QUANTOS VÃO VIAJAR?

 Dos 513 deputados e 81 senadores, quantos tomarão o rumo dos aeroportos internacionais, a partir de amanhã, início do recesso? Ou até já tomaram, junto com suas famílias. Não é proibido viajar,  chega a ser essencial para o aprimoramento cultural de Suas Excelências, mas num período como o atual torna-se supérfluo e perigoso deixar  Brasil e em especial, Brasília. O recesso que começa dentro de 24 horas virou uma temeridade.

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