CIDADÃO FACE

Antônio Assis
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Há mais de uma contradição entre meio e mensagem nas manifestações que tomaram o país.‭ ‬Uma delas foi revelada por reportagem da Folha na última quinta.‭

‬Nela,‭ ‬levantamento mostra que‭ ‬80%‭ ‬dos links compartilhados no Twitter com‭ "‬hashtags‭" ‬ligadas aos protestos durante o auge do movimento tinham origem na mídia dita tradicional‭ ‬--quer dizer,‭ ‬era conteúdo produzido pela imprensa profissional,‭ ‬levando em conta os preceitos do bom jornalismo.‭

‬Ainda de acordo com a pesquisa,‭ ‬páginas ligadas à imprensa no Facebook tiveram o compartilhamento de seu conteúdo pelo menos triplicado.‭

‬Ou seja,‭ ‬antes e depois de sair para as ruas para criticar,‭ ‬entre outras centenas de bandeiras,‭ ‬a grande mídia,‭ ‬os manifestantes se informavam por ela,‭ ‬utilizando o trabalho produzido pelo jornalismo profissional para validar ou rejeitar os vários rumores que surgem nas redes sociais.‭

‬Outra contradição foi o uso principalmente do Facebook para ajudar na formação e na divulgação dos eventos,‭ ‬o que muita gente boa chamou de‭ "‬mídia direta‭"‬,‭ ‬fruto da‭ "‬liderança horizontal‭"‬.‭ ‬Nós‭ ‬--jornalistas incluídos--‭ ‬gostamos de pensar em Apple,‭ ‬Facebook,‭ ‬Google e Twitter como organizações etéreas sem fins lucrativos,‭ ‬em vez de empresas bilionárias que visam o lucro,‭ ‬que é o que são.‭ ‬É preciso desvestir a fantasia.‭

‬Para ficar apenas no Facebook,‭ ‬o‭ "‬terceiro país do mundo‭"‬,‭ ‬com seu‭ ‬1,1‭ ‬bilhão de usuários,‭ ‬não fica nada a dever a seu‭ "‬vizinho‭" ‬China na falta de transparência de suas práticas‭ (‬vide caso NSA‭)‬,‭ ‬no controle da vida de seus‭ "‬cidadãos‭" (‬por algoritmos e política de privacidade obscuros‭) ‬e na remuneração aviltante de sua mão de obra‭ (‬nós e nossos posts,‭ ‬pelos quais ganhamos zero e em cima dos quais faturam bilhões‭)‬.‭

‬Se a geração MPL quer fazer a revolução anticapitalista,‭ ‬fazê-la no Facebook é como se rebelar contra o imperialismo ianque morando na Disneylândia.

Fonte:‭ ‬Folha de S.Paulo

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